A amizade de Jesus e Pedro
Pedro foi um discípulo de Jesus reconhecido por sua impulsividade. Com frequência tomava a iniciativa ao falar ou agir diante das situações que se apresentavam. Essa característica de um líder nato lhe trazia, às vezes, méritos outras vezes, problemas. Apesar disso, Pedro era alguém em quem Jesus confiava. Junto com Tiago e João, ele viveu experiências únicas com Jesus. O Mestre sabia que podia contar com seus discípulos e amigos mais chegados.A precipitação de Pedro
Certa vez Pedro (Mateus 17.24-27) precipitou-se ao assumir um compromisso desnecessário em Cafarnaum. “O vosso mestre não paga o imposto das duas dracmas, ao templo?”, indagaram os coletores de impostos daquela cidade. “Sim, paga”, foi a resposta imediata do líder e impulsivo Pedro.A lealdade de Pedro
Observando a trajetória do Apóstolo narrada nos Evangelhos é fácil perceber o quanto Pedro era comprometido com seus amigos e, sobretudo, com seu Mestre – mesmo em momentos de grandes erros. Por exemplo: Depois de Jesus anunciar a sua morte (Mateus 16.21-23) Pedro vai até ele em particular e diz: “Deus seja gracioso contigo, Senhor! De modo algum isso jamais te acontecerá”. Motivado pelo cuidado com o Mestre e querendo evitar seu sofrimento, Pedro acaba se colocando contra à vontade de Deus e é reprendido pó isso. “Para trás de mim, Satanás [adversário]! Tu és uma pedra de tropeço, uma cilada para mim, pois tua atitude não reflete a Deus, mas, sim, os homens”. (Grifo nosso) Mesmo aqui é possível perceber sua motivação, sua lealdade e seu comprometimento. É neste contexto que ele não aceita a afronta dos coletores: “vosso mestre não paga o imposto”?A pedagogia de Jesus
Para a precipitação de Pedro a antecipação de Jesus. De modo pedagógico Jesus o faz refletir sobre a razão de se assumir um compromisso desnecessário. “De quem cobram os reis da terra impostos e tributos? Dos seus filhos ou dos estranhos?”. Ora, eles eram naturais daquela região, portanto não fazia sentido pagar impostos como se fossem estrangeiros. Em outros termos, o que Jesus faz Pedro perceber é que sempre pagaram impostos e tributos como moradores daquele lugar, desde os tempos em que trabalhavam com a pescaria, portanto este era um tributo para allotrion (ἀλλοτρίων: estrangeiros, estranhos, forasteiros).A responsabilidade de Jesus com seus amigos
O senso diria que este seria o momento de fazer Pedro voltar e desfazer o compromisso desnecessário à luz da legalidade. Curiosamente não é isso que Jesus faz. Ao invés de tomar uma posição comodamente política (não sei de nada, não assinei nada, não empenhei minha palavra nisso), Jesus assume o compromisso com seu amigo. A questão é que atitude afoita de Pedro não introduzia algo indigno, imoral, antitético ou ilegal a coletividade ou a Jesus em particular. Ele apenas cometera um excesso e não um erro. E, o fez, porque estava profundamente comprometido com seu grupo e, sobretudo com seu Mestre. Por isso a recíproca de Jesus foi além do esperado.“Entretanto, para que não os escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, e o primeiro peixe que fisgar, tira-o, e, abrindo-lhe a boca, acharás um estáter. Retira aquela moeda e entregue a eles para pagar o meu imposto e o teu também.”
Para não causar skandalisomen (σκανδαλίσωμεν: vegonha, escândalo, ser motivo de tropeço e queda de alguém) Jesus assume a responsabilidade por ele (que não provocou) e por Pedro (que se precipitou). O estáter (equivalente a quatro dracmas) era suficiente para pagar o imposto (indevido) de ambos: Duas dracmas para cada um.
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