A palavra integridade deriva do Latim, intĕgrĭtās, e significa (de modo resumido): 1) aquilo que é
fisicamente inteiro (corpo, território etc.); 2) aquilo que é puro sem máculas
ou violações (mente, palavras, ações); 3) que tem estado perfeito (saudável) e
4) o que guarda inocência (uma vida pura). Integridade enquanto valor é algo ligado
ao caráter, a probidade, a mente inteira, ao comportamento ético e as palavras
que reflitam pureza: sem máculas, sem segundas intenções ou aliciamentos.
Na Bíblia não encontramos uma palavra correspondente direta de
integridade: nem no hebraico nem no grego. No entanto, ante a exigência moral e
ética do conceito, pode-se afirmar que a Bíblia, como um todo, carrega uma
mensagem da integridade exigida e necessária a todo homem no seu relacionamento
com Deus, sobretudo no Novo Testamento. O conceito de integridade está tão
arraigado na Escritura que a palavra πεπληρωμένα
(peplērōmena-completo, cheio até o máximo), traduzida normalmente como
“perfeita”, na versão King James é traduzida como integridade. “Sê alerta! E
fortalece o que ainda resta e estava prestes a morrer; porque não tenho
encontrado integridade em tuas obras diante do meu Deus” (Ap 3.2).
Integridade da mente é a característica principal do cristão. O apóstolo Paulo fala da renovação da mente
onde o novo homem pensa de modo diferente do velho homem. A mente é de tal modo
importante que a palavra traduzida como arrependimento é μετανοια (metanóia), mudança de mente. No Antigo Testamento guardar
o coração (lebab-homem interior,
mente, vontade, coração, alma) semanticamente significa guardar a mente. Em
Lucas 6.45, certamente Jesus se refere a mente quando afirma: “a boca fala do
que está repleto o coração”. Jesus ensinando sobre seus critérios afirma: “Se
permanecerdes na minha Palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos”. O
discípulo tem sua forma de pensar totalmente diferente da maneira antiga porque
a Palavra permanece no seu coração.
Uma mente íntegra leva a atitudes diferentes diante das
circunstâncias da vida, sobretudo nas mais conflituosas. Para o pastor Martin
Luther King Junior, “a verdadeira medida de um homem não se vê na forma como
ele se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como se mantém
em tempos de controvérsias e desafios”. Nesse sentido, a conversão mediante o
arrependimento é algo único. Ninguém se converte todos os dias. Paulo ensina
que o homem, depois de convertido, renova sua mente a cada dia a partir do
maior conhecimento da graça de Cristo. Um crescimento que vai da fase infantil
até fase adulta quando, finalmente, esse novo homem alcança a estatura do Varão
Perfeito. E para que não haja dúvidas em seus leitores, o apóstolo enumera de
modo muito prático como se dão as mudanças de comportamento: Mentia, não minta
mais; furtava, não furte mais; irou-se, não peque. Comportamentos necessários a
não entristecer o Espírito Santo que habita em todo aquele que já aceitou Jesus
Cristo como seu Senhor e Salvador. Cuidadosamente ele conclui sua lista: “Não
saia da vossa boca nenhuma palavra que cause destruição, mas somente a que seja
útil para a edificação”.
Uma mente íntegra resulta em palavras igualmente íntegras (puras,
sem malícia). Assim como em Lucas e Efésios, Tiago alerta sobre a necessidade
do controle sobre a língua (as palavras). Para ele, a língua “é fogo; é um
mundo de iniquidade, pode contaminar a pessoa por inteiro, e põe completamente
em chamas o curso da nossa existência”. Destaca ainda o autor que todos os
animais e feras se submetem a vontade do homem, mas “a língua, contudo, nenhuma
pessoa consegue dominar. É um mal incontrolável, cheia de veneno mortal”. E,
por que não consegue dominar? Porque o coração está cheio de ... Tiago
argumenta com aqueles que imaginam ser possíveis as contradições intencionais
acerca das palavras boas e más (sem integridade): “Da mesma boca procedem
bênção e maldição. Meus queridos irmãos, isso não está certo!”
Todavia, silenciar não é necessariamente “controlar” a língua.
Para a psicóloga e jornalista Maria Rita Kehl, “quando um processo que nem ao
menos é justo, é conduzido por interesses inconfessáveis, mas que todo mundo
mais ou menos já sabe, então se cria uma espécie de capa de cinismo que encobre
os processos sociais”. Ou seja, faz-se um “Pacto do Cinismo” onde todos,
sabendo que está errado, mantém o silêncio diante da injustiça. Neste mesmo
sentido o pastor Luther King classifica esse cinismo de “o silêncio dos bons”.
Para ele “quem aceita o mal sem protestar, coopera com ele.” Nesse silêncio, a
falta de integridade revela-se tão nociva quanto falta de integridade no falar.
Por isso, Tiago assevera: “Refleti sobre isto, pois: Quem sabe que deve fazer o
bem e não o faz, comete pecado.”
Portanto, integridade, enquanto um valor cristão, passa pelos
conceitos éticos, morais, sociais e psicológicos das chamadas ciências humanas,
no entanto, supera estes conceitos em muito. Porque, em Cristo, o homem é
transformado totalmente e, à medida que vai crescendo na graça e no conhecimento
de Deus, aperfeiçoa (renova) o que já foi mudado no mais profundo do seu ser.
Uma mente íntegra, pura, proba, reta, digna, inteira e integrada à mente de
Cristo implica em ações coerentes com a mudança ocorrida na alma. De igual
modo, o falar e o calar refletem uma mente íntegra. É verdade que a
religiosidade pode moldar comportamentos e palavras sem que haja uma mudança
interior verdadeira. Mas, isso, só compete a Deus saber. Por outro lado, se o
comportamento e as palavras não são as de Cristo é muito difícil afirmar uma
integridade cristã ocorrida no interior do homem. Se a filosofia afirma que sem
valores o homem perde sua própria identidade, o cristianismo assegura que sem
valores cristãos este perde a identidade de Cristo. Talvez o apóstolo Paulo
tenha sido quem melhor definiu o conceito integridade sob a ótica de Jesus.
“Fui crucificado juntamente com Cristo. E, desse modo, já não sou eu quem vive,
mas Cristo vive em mim”.
Que a nossa natureza morra e germine a natureza de Cristo em nós. No
pensar, no agir e no falar.
OBS: Este texto foi escrito especialmente para a Igreja Batista do Méier(revista Pensar 14, pg 20). Para conhecer mais sobre os valores da igreja clique aqui.
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