20 de novembro de 2020

O que se aprende com a segunda decepção?

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Na primeira vez foi difícil, mas passou. Na segunda....

A gente aprende que os batistas encarnam bem o preconceito estrutural da nossa sociedade. E, antes que alguém proteste, trata-se da maioria, da grande maioria, ainda que existam algumas poucas exceções.

A primeira decepção

Marrille Franco e Anderson Gomes
Em março de 2018 com alegria compartilhei a posição de repúdio dos batistas brasileiros postado no Facebook da Junta de Missões Nacionais referente ao assassinato de Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes. O texto não fazia qualquer referência partidária ou ideológica, apenas dizia que os cristãos batistas não concordam com a violência e ódio crescente no país. Algo que me encheu de orgulho como cristão e como batista. Orgulho compartilhado com muitos amigos. Mas...

Logo em seguida o post foi removido da página sem qualquer explicação. Foi decepcionante. O que pensar sobre isso? Será que os batistas não gostaram? Será que são favoráveis a violência? Ou será que são homofóbicos a ponto de ignorar o valor da vida de uma mulher lésbica assassinada covardemente? 

Um cristão – qualquer cristão que seja –, seria capaz de considerar a vida dela insignificante ou menos valiosa?  Sem respostas, esse foi um longo tempo de reflexão tentando digerir o orgulho batista transformado em profunda desilusão. Preferi pensar que a Junta de Missões Nacionais optou por não se envolver em um assunto que não tem relação diretamente com a sua missão, embora essa devesse ser também sua missão profética no país: pregar a tolerância e repudiar a violência e a morte. São águas passadas e com o tempo tudo passou. Superei.

A segunda decepção
No dia 19 de novembro de 2019, Missões Nacionais fez alusão ao símbolo da unidade nacional, ao marco da identidade brasileira, a belíssima bandeira do nosso querido e amado Brasil. Nosso pendão da esperança, “símbolo augusto da paz!”.  Mas, o que isso tem a ver com a missão da Junta? Nada. No entanto, trata-se de uma data comemorativa de um dia importante do calendário nacional, portanto, a meu juízo, merece aplausos!

No dia seguinte, 20 de novembro, a Junta de Missões Nacionais publicou:

20 DE NOVEMBRO - DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
Um momento para refletir sobre os preconceitos estruturais em nossa sociedade e nos lembrar de que devemos caminhar rumo a uma consciência como a do nosso Deus, sem nenhuma acepção de pessoas.
Interceda conosco por uma sociedade mais igualitária!


Mais uma vez me enchi de orgulho batista compartilhando a mensagem com vários amigos sobre a nossa visão acerca do respeito à comunidade negra (da qual faço parte) e sobre a consciência que temos de todos os males causados pela escravidão impostas aos negros deste país, o último das Américas a libertar seus escravos. “Mas tão habituado com o adverso” (João Nogueira) fiquei cabreiro e .... Não deu outra!

A postagem não durou mais que poucas horas. (de novo?) No fundo eu até imaginei que isso pudesse acontecer quando compartilhei.

Desconfiei porque dentre meus irmãos de fé obtive um único “gostei”, dos demais, foram muitos parabéns entre outras manifestações positivas sobre a postura e consciências dos batistas sobre essa data tão cara para a nossa triste história. De modo geral,  as pessoas de fora do nosso meio guardam no seu imaginário a ideia de que os batistas são diferentes: “Os batistas são sérios” é expressão mais usada. Mas o post apagado não deixou mais qualquer dúvida, trazendo luz a mais dura realidade. 

Porque, percebam. É impossível pensar que um cristão – qualquer cristão que seja –, não queira “refletir sobre os preconceitos estruturais em nossa sociedade”, não deseje “lembrar de que devemos caminhar rumo a uma consciência como a do nosso Deus” e não tenha o desejo ardente no coração de imitar o Senhor e viver sem fazer “nenhuma acepção de pessoas”. É impossível pensar que um cristão – qualquer cristão que seja –, não se interesse por interceder “por uma sociedade mais igualitária!”. São coisas impensáveis a um cristão – qualquer cristão que seja. Mas estes desejos absolutamente cristãos foram apagados na página da Junta de Missões Nacionais. Haveria alguma relação com a eleição do presidente!?

Os seguidores de Jesus de Nazaré não são e nunca agiram assim porque Jesus nunca viveu ou ensinou deste modo. Em nenhuma parte dos evangelhos encontramos este tipo de postura de Jesus. Pelo contrário, Ele acolheu, alimentou, ensinou e amou até a morte esta gente “sem valor”. Mas o 20-11-2019 foi difícil. Muito difícil!

O que se aprende com a segunda decepção?

A gente aprende que os batistas encarnam bem o preconceito estrutural da nossa sociedade. E, antes que alguém proteste (de novo), trata-se da maioria, da grande maioria, ainda que existam algumas poucas exceções.

Certamente não são poucos os que repudiam esta posição, totalmente contrárias àquelas do Nazareno. Mas, de modo geral, o post apagado, e pela segunda vez, como foi apagado também o de 2018, não nos deixa dúvidas.  Fica claro que não se trata de uma questão da Junta em si, mas dos batistas. O que aparenta é que: 1 - Alguns certamente não gostaram da publicação. 2 – Esses tem poder suficiente para mandar remover o post. 3 – Poder que é dado pelo grupo a quem eles representam. Essas pessoas não me representam. Mas isso não importa. Importa que também não representam o filho de Deus. Ainda que não sejam todos os batistas, a maioria apoia a retirada da publicação. É decepcionante perceber que são muitos e que possuem tanto poder.

Segundo as palavras de Jesus em Mateus 7.21-23, ficamos sabendo que nem todos o chamam de Senhor entraram no Seu Reino.

Para não ser tido como mentiroso

Antes que alguém imagine que estou delirando, fantasiando ou coisa pior sobre as duas publicações apagadas (2018 e 2019), deixo o link da publicação de 2017 que esqueceram de apagar. https://www.facebook.com/missoesnacionais/posts/1519902291427601

Claro, pode acontecer de “alguém” não gostar e mandar apagar também essa postagem e, neste caso, não terei como provar o que afirmo.  Mas não tem problema. Deixo prints das telas da publicação e, para que não digam que é montagem ou fake, deixo também alguns comentários de pessoas tementes a Deus manifestando sua alegria com a postura dos batistas brasileiros.


Esperar é uma arte

Durante um ano inteiro esperei esse dia. Dessa vez não me surpreendi. Embora não haja expediente na Junta por causa do feriado nacional, este ano não há nada na página sobe o Dia da Consciência Negra*. A referência ao dia 19 está lá, assim como nos anos anteriores, mesmo não sendo o Dia da bandeira um feriado.

Infelizmente os batistas brasileiros perderam a moral e o direito de repudiar a morte brutal de João Alberto Silveira Freitas. O homem preto espancado até a morte, ontem (19), por seguranças no supermercado Carrefour, à luz do dia e sem qualquer pudor ou constrangimento por parte dos assassinos.

Vamos ganhar o Brasil para Cristo!? Vamos, quem? Que Brasil? Qual Cristo?

*Nota: há uma referencia deslocada para o dia 18 (como dia de combate ao racismo). Será que viram isso? Será que vão mandar apagar a postagem com a imagem do pastor batista, Martin Luther King Jr?











24 de janeiro de 2019

A Fábula dos Dois Lobos (dos índios Cherokee)

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Certo dia, um jovem índio Cherokee chegou perto de seu avô para pedir um conselho. Momentos antes, um de seus amigos havia cometido uma injustiça contra o jovem e, tomado pela raiva, o índio resolveu buscar os sábios conselhos daquele ancião.

O velho índio olhou fundo nos olhos de seu neto e disse:

“Eu também, meu neto, às vezes, sinto grande ódio daqueles que cometem injustiças sem sentir qualquer arrependimento pelo que fizeram. Mas o ódio corrói quem o sente, e nunca fere o inimigo. É como tomar veneno, desejando que o inimigo morra.”

O jovem continuou olhando, surpreso, e o avô continuou:

“Várias vezes lutei contra esses sentimentos. É como se existissem dois lobos dentro de mim. Um deles é bom e não faz mal. Ele vive em harmonia com todos ao seu redor e não se ofende. Ele só luta quando é preciso fazê-lo, e de maneira reta.”

“Mas o outro lobo… Este é cheio de raiva. A coisa mais insignificante é capaz de provocar nele um terrível acesso de raiva. Ele briga com todos, o tempo todo, sem nenhum motivo. Sua raiva e ódio são muito grandes, e por isso ele não mede as consequências de seus atos. É uma raiva inútil, pois sua raiva não irá mudar nada. Às vezes, é difícil conviver com estes dois lobos dentro de mim, pois ambos tentam dominar meu espírito.”

 O garoto olhou intensamente nos olhos de seu avô e perguntou: “E qual deles vence?
Ao que o avô sorriu e respondeu baixinho: “Aquele que eu alimento.”

Fonte: https://obemviver.blog.br/2015/03/23/a-fabula-dos-dois-lobos-qual-deles-voce-quer-alimentar-reflexao/

24 de dezembro de 2018

A história da estrangeira pobre da periferia que dá à luz num curral

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Deus escolhe uma menina pobre da periferia de Nazaré para ser a mãe do salvador do seu povo. Em Belém, ninguém se compadece da estrangeira grávida e o Filho de Deus nasce num curral. Com o modesto enxoval ela improvisa um berço do coxo onde os animais comiam.
O Natal de Jesus tinha cheiro de palha, de bicho, de xixi e de cocô de bicho. Porque os homens não podiam imaginar ou aceitar um rei humilde nascer em uma família tão pobre.
Natal!? O de Jesus foi assim: “Se quiser, fica aí, no curral! Você, seu marido e seu bebê!”

24 de outubro de 2018

A mentalidade da igreja evangélica e o flerte com o autoritarismo

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Uma breve reflexão de suas contradições e paradoxos

Por: Professor Eduardo Filho

Diante do cenário político-eleitoral recente, em especial em relação ao pleito presidencial nos 1º e 2º turnos, causou-me espécie o flerte com que grande parte das lideranças religiosas do espectro evangélico tem tido com uma visão de mundo de caráter autoritário, elitista e conservador.

Em verdade, tal comportamento não é uma novidade. A história demonstra alguns exemplos da proximidade dos segmentos evangélicos e/ou protestantes no mundo ocidental com os políticos autoritários e ditatoriais, sobretudo, os de cunho mais à direita. A exceção, é claro, na história recente, foram as experiências dos evangélicos e cristãos no mundo socialista e comunista. Ali em grande parte foram perseguidos e humilhados em decorrência dos princípios que professavam.

Sofreram, de fato, as agruras do autoritarismo e da intolerância. No quadro político nacional, talvez, tal fato pareça justificar que parcelas das lideranças evangélicas brasileiras apoiem as propostas nem um pouco coadunadas com os princípios democráticos e civilizatórios. Será que em nome de valores morais próprios, anularemos princípios humanitários e democráticos pertencentes ao todo social? Aliás, o embate atual no sentido moral e político tem sido entre a barbárie e a civilização, entre a aniquilação do outro e o respeito à dignidade intrínseca que cada indivíduo deve ter.

Contradições à parte, inerentes à própria condição humana e aos contextos históricos em que os fatos ocorreram, o que dizer do silêncio e do apoio de lideranças protestantes e católicas ao longo do período nazista na perseguição aos judeus, ciganos, Testemunhas de Jeová, homossexuais, comunistas e socialistas e demais dissidentes? O que dizer do apoio de lideranças religiosas protestantes racistas do Sul dos EUA à política segregacionista?

Dietrich Bonhoeffer
Depois, nos perguntamos por que o evangelho “morreu” na Europa e no chamado mundo desenvolvido? Ora, os corações e mentes dos europeus têm ficado endurecidos a qualquer proposta de mundo religiosa – salvacionista ou não – de certo modo em decorrência dos “belos exemplos” que as lideranças deram ao se aliarem ao que há de mais torpe no desrespeito à condição humana. Não tenhamos dúvida, que em ambos os casos o terror foi promovido por cristãos confessionais ou culturais. Evidentemente que para cada generalização, há honrosas exceções, vide os testemunhos de Dietrich Bonhoeffer, religioso luterano contrário ao nazismo e Martin Luther King, pastor batista, ambos mortos por um ideal integralmente próximo ao que o Cristo que professaram os ensinou. Acrescente-se também aos inúmeros relatos de gente comum, gente como a gente, que não se rendeu ao ódio, ao preconceito e à intolerância.

Agora, no atual cenário brasileiro, em pleno século XXI, parece ser a nossa vez, digo dos evangélicos brasileiros, ao que também me incluo, no sentido de não corresponder ao que entendo, Cristo exige de cada um de nós. O apoio de significativa parcela das lideranças evangélicas e das massas que são por elas comandadas decorre, de um lado, da ignorância e do desconhecimento. Meu Deus, que falta faz um ensino de qualidade e crítico? De outro lado, esse apoio parece decorrer da concordância em assuntos de ordem moral e religiosa, como a questão do aborto, da compreensão do significado do que é família, e dos indivíduos que se autoproclamam como “homens de bem”.

Os casos históricos citados acima – que eu chamo de práticas religiosas e morais do terror – macularam o cristianismo naquelas realidades, o que tem se reverberado até os dias atuais. E, nós, aqui no Brasil? Que imagem as gerações futuras terão dos cristãos que apoiaram toda sorte de preconceito e de discriminação, reverenciando uma verdadeira cultura da morte, morte física e social, como diria o sociólogo Betinho, aos acometidos pelas consequências da AIDS em meados dos anos 80 e 90 do século passado.

Caríssimos, há uma dissonância significativa entre condenar a prática do aborto por questões morais e religiosas e dizer que “bandido bom é bandido morto”, há uma incompatibilidade em preservar a família cristã e ser indiferente a morte física e social da gente pobre e de toda a sorte de oprimidos. O relativismo moral que tanto os púlpitos condenam, parece ter encontrado terreno fértil em nossas paragens. Uma combinação perfeita entre fundamentalismo irmanada ao relativismo parece estar ganhando fôlego. Obviamente que ambos os valores são manipulados conforme as conveniências ideológicas, religiosas e políticas de cada grupo. Para melhor entendermos, considero que a Declaração Universal dos Direitos do Homem é um documento muito próximo com que me parece Cristo exige de cada um de nós.

Acredito, sim, até em uma igreja perseguida em função da defesa dos valores cristãos, mas jamais em uma igreja perseguidora e tirânica. Temos que dar vivas à vida e um não à cultura da morte. A história demonstra que teremos um preço a pagar. Saibamos fazer uso de um recurso racional e solidário em relação ao próximo, porque me parece, salvo engano, foi isso que Deus, por meio do seu Filho, nos ensinou.

Professor José Eduardo Pereira Filho – Sociólogo, Cristão-Batista

Gratidão: Ter a honra de publicar o post do meu amigo Eduardo no meu blog é um valor inestimável

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