Ao pensarmos num livro, por exemplo, que é um texto mais elaborado, percebemos nele uma série de elementos que não constituem o texto, propriamente, mas funcionam como acessórios, que entre outras funções preparam o leitor para o conteúdo principal, que virá a seguir. Passamos pela capa, contracapas, orelhas, dedicatórias, agradecimentos, prefácio, antes de iniciarmos a Introdução. E o que isso tem a ver com o culto? A resposta é simples: nada. Na realidade, podemos afirmar que esses elementos assemelham-se àqueles que devem ocorrer no momento que aqui denominamos de Pré-culto, aquele espaço de tempo que dedicamos às boas-vindas, cumprimentos, abraços, avisos, informações, promoções, vídeos, que precedem o culto propriamente dito. É o único momento de informar que o livro mais recente do pregador e o CD do cantor convidados estarão à venda após o culto. Neste espaço só não cabe fazer aquelas perguntinhas óbvias, que não merecem resposta, nem recriminar os irmãos, perguntando-lhes se não tomaram café, por não terem dado uma sonora resposta a um cumprimento. Nos tempos atuais, de tantas tecnologias, uma boa prática é transformar em vídeo tudo o que for possível, para tornar o pré-culto bem objetivo e enxuto.
Encerrado o pré-culto, o ideal é que haja algo que deixe bem marcada a transição para o culto. Um tempo de oração silenciosa, por exemplo, uma música com letra em língua portuguesa que seja bem conhecida, que propicie a reflexão, algo que prepare o fiel para cultuar.
O culto como um texto começa a ser preparado bem antes de sua realização. Quando o pastor, ou o responsável por pregar nos cultos, elabora o seu plano de pregação, ele escolhe o tema de cada sermão e o(s) texto(s) bíblico(s) que servirá(ão) de base para cada um. De posse dessas informações, o responsável pela elaboração das ordens de culto prepara cada uma de forma tal que todo o culto caminhe para a consecução daquele(s) objetivo(s) que o pregador deseja alcançar ao fim de sua mensagem. Para isso essa pessoa seleciona outros textos bíblicos relacionados ao tema já definido, bem como as músicas que serão cantadas. Aqueles que forem convidados para participações especiais, como cantores e grupos, devem ser orientados a escolher músicas dentro desse mesmo tema. No culto como um texto cada participante tem sua função específica: dirigentes dirigem o culto e os cantos da congregação; cantores apenas cantam; pregadores pregam. (grifo nosso).
É na preparação da ordem do culto que aquele que a elabora pode perceber a grande semelhança entre texto e culto. Tudo começa com o tema proposto pelo pregador. A partir daí, ao elaborar a ordem de culto, ele pensa na Introdução e no Desenvolvimento que conduzam à Conclusão, que virá ao fim da mensagem. Além desses três elementos básicos do texto, o culto precisa de Coesão, Coerência e Argumentação.
A função do dirigente do culto é muito importante, pois é ele que “costura” cada uma dessas partes, para que elas constituam um todo harmônico que prepare a congregação para a mensagem que será entregue pelo pregador. Para isso ele deve estudar cada texto bíblico que será lido, cada música que será cantada pela congregação, para estar preparado e tenha o que dizer. Em momentos de descontração, seminaristas costumavam citar uma regra da homilética, criada por eles, naturalmente: “Quando o seu argumento for fraco, dê um grito e um soco na mesa”. Isso nos remete ao texto de 1Reis 19.11,12, em que lemos: “o Senhor não estava no vento”... “o Senhor não estava no terremoto”... “o Senhor não estava no fogo; e ainda depois do fogo uma voz mansa e delicada... Que fazes aqui, Elias?”. A voz mansa e delicada é muito mais propícia à reflexão, ao louvor, à adoração, mas tem estado ausente em muitos dos nossos cultos. Quando a Bíblia não entra na ordem do culto, e quando o dirigente não estuda o conteúdo do que a congregação canta, o grito parece a alternativa natural. com Igrejas do século 21 correm o sério risco de confundir templo com arena, culto com show, e congregação plateia.
Ainda em relação às músicas cantadas pela congregação, é preciso destacar o papel dos instrumentos. Assim como uma moldura em um quadro, os instrumentos devem ter a função de destacar o canto, as vozes, e não competir com elas. O primeiro plano deve ser sempre o das vozes, enquanto, ao fundo, os instrumentos devem emoldurá-las, pois é nas vozes que se encontra a mensagem, que por sua vez conduz o desenvolvimento do culto em direção ao seu objetivo (estamos pensando aqui no “culto racional!”). É comum o uso do playback em substituição aos instrumentos, mas é preciso treinar os operadores de som para que eles não o transformem em “playfront” como costuma acontecer.
Todo culto deve ter a característica de ser saudável. Neste sentido, a ordem de culto deve prever os momentos em que a congregação permanecerá de pé, cuidando que estes não sejam demasiadamente longos nem repetitivos, tendências comuns atualmente. A sonotécnica, por sua vez, deve exercer um papel relevante: o de controlar a intensidade do som dos instrumentos e dos microfones. “De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o limite suportável para o ouvido humano é 65 decibeis. Acima disso, o organismo começa a sofrer. Para salas de aula, a Associação Brasileira de Normas Técnicas estipula que o limite tolerado é de 40 a 50 decibeis. Esse índice, aprovado por resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), tem força de lei” [confira]. Em nossos dias, quando observamos um enorme apreço pelo barulho, nossas igrejas parecem não estar preocupadas, neste particular, com a saúde de seus fiéis. Para tirar a dúvida, basta uma simples medição.
Nada desqualifica tanto um texto quanto erros gramaticais grosseiros em seu interior. Por isso é importante prestar atenção não só ao conteúdo mas também à forma do que projetamos em nossas telas.
Precisamos criar a cada dia maior intimidade com bons textos para que achemos natural pensar em culto como um texto. Pensar e pôr em prática.
Fonte: www.prazerdapalavra.com.br
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