O Brasil está envelhecendo
Os gráficos mostram aquilo que já vem sendo anunciado nos últimos anos: a população brasileira está envelhecendo. O número de pessoas com mais de 60 anos saltou de 8,6% da população brasileira, em 2000, para 10,8%, em 2010. No outro extremo houve grande queda no número de jovens até 19 anos. No total, houve um acréscimo de 21 milhões de pessoas em 2010.
Comparando este acréscimo nas faixas etárias percebe-se uma redução de 5,3 milhões de pessoas (-21%) entre os jovens de até 19 anos e, ao mesmo tempo, um aumento de 6,1 milhões de pessoas (41,7%) entre os mais idosos.
Estima-se que o grupo com 60 anos ou mais será maior que o grupo de crianças com até 14 anos em 2030 e, em 2055, irá superar o grupo de jovens com até 29 anos. Com o crescimento cada vez menor na base da pirâmide etária, em 2043, pela primeira vez, o número de mortes superarão os de partos em 2%. Esse percentual vai aumentar gradualmente até 2060 quando o número de idosos será três vezes maior do que hoje (em relação a 2013).
A longevidade é um dos fatores influenciadores deste fenômeno mundial. A expectativa de vida do brasileiro que era de 69,8 anos, em 2000, deve chegar a 81,2 anos em 2060 graças aos avanços da medicina e das políticas públicas adotadas pelos governos.
Expectativa de vida ao nascer - 2000/2060
As crianças estão diminuindo
Mas, para o pesquisador Gabriel Borges a longevidade não é o fator mais importante para o envelhecimento dos brasileiros. “O envelhecimento da população acima dos 65 anos tem a ver com a diminuição da fecundidade. Você diminui o número de jovens e tem o aumento relativo dos idosos. Mesmo sem o avanço da expectativa de vida, os idosos aumentariam”. Estudos mostram que as brasileiras hoje têm um terço dos filhos da década de 1940. Mesmo os estados do Norte/Nordeste registram uma forte queda no número de bebês (2,47% e 2,06% em média respectivamente). Esses números tornam-se ainda mais significativos quando considera-se a forte queda da mortalidade infantil nessas regiões. Ou seja, se há uma redução na mortalidade infantil então há de fato uma redução no número de bebês.
Os problemas sociais
Esse perfil mais maduro do brasileiro representa mudanças na estrutura das cidades. No Amazonas, por exemplo, faltam asilos. Para a vice-presidente da Fundação Dr. Thomas, Ana Lúcia Araújo, “o melhor acolhimento para o idoso ainda é no seio da família”. De modo geral o acesso ao lazer e a saúde são as maiores demandas sociais dos idosos do país.
Os problemas econômicos
A economia é o setor mais afetado por esse desequilíbrio: força produtiva versus aposentados. Segundo Ana Lúcia Saboia “Hoje em dia a população de idosos que recebe benefícios é muito expressiva, grande parte recebe contribuições de transferência de renda. Os trabalhadores (que irão se aposentar no futuro e em tem carteira assinada) têm mais garantias. O sistema previdenciário tem que estar atento ao envelhecimento”.
Enquanto o número de aposentados vem crescendo a população ativa vem caindo. Ora, grande parte dos recurso que pagam as aposentadorias (um direito) vem da força de trabalho dos mais jovens (em queda) e, como se diz na economia, a conta não fecha. É por isso que a partir de 1998 os governos vem alterando as regras para o recebimento integral do benefício. A contribuição dos aposentados para INSS e o valor proporcional (e não integral) do salário foram tentativas de equacionar o problema. Outra medida adotada foi a criação do Fator Previdenciário (FP) apelidado de fórmula 95/85. Para ter direito à aposentadoria integral o trabalhador precisa somar o tempo de contribuição com a idade (95 para os homens e 85 para as mulheres). Entretanto considerando-se a realidade atual, já se fala em 47 anos de contribuição para os homens e 42 para as mulheres.
A questão econômica é tão séria que hoje existem vários processos de desaposentadoria, o que, em linhas gerais, vem a ser o retorno do aposentado ao trabalho a fim de completar os anos necessários para aposentadoria integral.
A questão do Estatuto
Cumprindo seu papel legislativo o Estado aprovou o Estatuto do Idoso em 2003 (Lei 10.741/03) e a partir dele, estados e prefeituras vêm criando normas, procedimentos e adequações que visam atender a pessoa com mais de 60 anos.
Os problemas do Estatuto
Duas críticas são frequentes ao Estatuto. A primeira: pequeno avanço desde 2003. Políticas públicas não implementadas, direitos não respeitados e a assistência do Estado pouco presente. A segunda: A idade da pessoa idosa. Alguns analistas entendem que 60 anos, conforme os padrões da ONU, não é a idade mais adequada para se considerar uma pessoa idosa e sugerem a mudança para 65 anos.
Onde vivem os idosos
O estado de São Paulo comporta o maior número de idoso do país (5,4 milhões) e o Rio de Janeiro é a unidade da federação em que o grupo da terceira idade é mais expressivo em relação à população total (15%). Na lista dos dez bairros do Brasil com maior proporção de idosos, a capital fluminense possui nove segundo Censo 2010 do IBGE.
O problema da mobilidade urbana
A mobilidade urbana é um problema comum às grandes cidades e nos municípios com grande concentração de pessoas com mais de 60 anos o desafio torna-se ainda maior.
O acesso à informação
Outro desafio às prefeituras destes lugares é o acesso à informação. Muitos serviços não são usados pelo desconhecimento por parte dos usuários. Num Brasil que envelhece cada vez mais, a sociedade precisa participar da discussão de como tratar os idosos dos país suas demandas e seus direito porque essa é uma questão posta inexoravelmente a cada brasileiro mais cedo ou mais tarde.
A falta de preparo para velhice
Após uma longa pesquisa, Paul Tournier afirma em sua obra, É Preciso Saber Envelhecer, que a falta de preparo é a principal causa da baixa qualidade de vida na aposentadoria e na velhice. Para o autor é preciso planejar a aposentadoria entre os 40 e 50 anos porque, em geral, a aposentadoria apresenta-se como um momento muito angustiante para homens e mulheres.
“É terrível ... estou aposentado há três meses! Nunca pensei que fosse tão duro.”, confessa um velho amigo de Paul. No segundo encontro, ele torna a perguntar: “E então, como vão as coisas?” “Muito bem! O banco que eu trabalhava precisa organizar um trabalhinho de classificação, então me pediram para ir algumas horas por dia. É uma grande sorte”, responde o amigo. Conclui então o autor “... esse homem, capaz de encontrar tão facilmente novo impulso para um trabalho que, há pouco, deixaria para outro mais jovem ... contentava-se com uma modesta possibilidade de brilho; pouca coisa bastava para transfigurá-lo”.
Essa também é uma realidade no Brasil. Impulsionados pela necessidade de completar a renda ou de refrear a angústia da aposentadoria muitos voltam a mercado de trabalho e, na maioria dos casos, exercendo funções tidas como menores por eles a pouco tempo. Em fevereiro deste ano A Folha de São Paulo destacou: “Emprego para mais velhos é o que mais cresce no país”. Na mesma época o portal da União Geral dos Trabalhadores (UGT) publicou matéria sob o título “A contratação de idosos é dez vezes maior que de jovens.”
Em seu livro, Tournier também aborda a questão da aposentadoria da mulher. Numa entrevista, a esposa de Leon Zitrone declara-se feliz no seu papel de ajudar o marido famoso. “Quando está em casa é absorvente. Sempre precisa de uma coisa.” E logo a seguir, confessa: “Levamos uma vida muito dinâmica; se meu marido morresse, eu afundaria por completo.”
A perda de sentido da vida após a viuvez não privilégio de mulheres bem-sucedidas como ela. “Muitas mulheres sacrificam de bom grado sua vida pessoal, para satisfazer os caprichos do marido ... E subitamente, após a viuvez, a mulher se vê em meio a um deserto.” Esta é a realidade de grande número de viúvas (e viúvos) no Brasil.
Um destaque necessário: Paul Tournier começa pelo tema aposentadoria porque, em suas próprias palavras: “Se aposentadoria anuncia a velhice, esta anuncia a morte”, razão pela qual o último capítulo do livro trata da questão da fé.
A visão da igreja
Para Tournier há um ponto comum entre estes dois termos: “o indivíduo que busca o sentido da vida, ou o ancião que busca o sentido da velhice, no fundo questiona o sentido da morte ... no entanto o sentido da morte é um problema religioso por excelência.” O papel da igreja é fundamental neste contexto. “Se minha vida tem um sentido, se posso vivê-la olhando para frente e não para trás ... é porque ela caminha para além da morte”, afirma serenamente o autor. Tema imperativo, mas que exige enfoque diferente, naturalmente. “É preciso reconhecer que todas as nossas igrejas cristãs exploraram por séculos, e de forma abusiva, o medo natural dos homens diante da morte, para assegurar domínio sobre eles.”
A visão romântica do idoso
A obra de Tournier, feita sobre encomenda nos idos dos anos 70 e no contexto europeu, se apresenta bastante atual quanto a visão romântica sobre a pessoa idosa. “Manter falatórios joviais com um ancião, cuidando-nos para não nos referimos ao tema da morte, pode converter-nos em cúmplices desse artifício ingênuo, que deixará o velho sozinho à mercê de sua angústia”. Por vezes a igreja se deixa levar pelos modismos da sociedade e, de forma ingênua, adota termos como “melhor idade”, “boa idade”, entre outros. No fundo tais recursos, constituem, em certa medida, uma fuga dos temas que angustiam a pessoa idosa (termo politicamente correto para velho. Será?)
A visão decaída do velho
No prefácio do livro, o psiquiatra Joel Tibúrcio de Sousa - membro do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos destaca que “Os tempos são outros. Envelhecer hoje não é como envelhecer nos dias de Paul Tournier.”, referindo-se ao grande valor da obra apesar da diferença no contexto em que ela foi escrita, há 4 décadas. “Daí a provável estranheza de alguns exemplos do autor”, conclui.
Se por um lado a sociedade (e a igreja) ainda mantém uma visão romântica a respeito dessa fase da vida intitulada de melhor, maior, boa idade etc., por outro, a ideia de uma velhinha sentada numa cadeira de balanço fazendo crochê está longe de ser 100% verdadeira. Em 2103, nos EUA, a participação de usuários acima de 65 anos no Facebook cresceu 10%. No Brasil O Globo publicou matéria semelhante: “Idosos internautas compõem grupo que mais cresce nas redes. Presença nas redes é alternativa para fugir do isolamento do mundo real”. Assim como os avanços da medicina, a tecnologia e as ferramentas de interatividade tem ajudado o idoso a “fugir do isolamento”.
A chamada terceira idade não é tanto nem tão pouco como são mostrados na maioria dos casos. Há que se buscar um equilíbrio ou realismo, eu diria. Envelhecer é uma arte que pode ser aprendida e “É Preciso Saber Envelhecer é um livro urgente para ainda jovem igreja brasileira.” Numa combinação entre “conhecimento bíblico e psicologia, Paul Tournier aborda importantes questões, como tédio, solidão, saúde, aposentadoria, aceitação e morte. Um livro tão importante como este deveria ser lido por aqueles que estão na casa dos vinte, e para aqueles que estão chegando aos quarenta deveria ser leitura obrigatória”, cometa a revista cristã The Christian Century
Prólogo
Neste artigo busquei sintetizar e ao mesmo tempo extrair o máximo do material pesquisado visando alcançar três objetivos: 1) Informar: Organizando da forma mais clara possível as informações sobre o perfil dos brasileiros nos próximos anos (alguns dados nos surpreenderam); 2) Refletir: Oferecendo elementos a uma reflexão mais fundamentada na realidade do idoso e sua vida no seio da igreja; 3) Agir: Aguçando nos leitores o desejo de avaliar com maior profundidade o que foi aqui exposto no sentido de encontrar as resposta para realidade de cada igreja. (todas as referências usadas estão no rodapé).
Por exemplo, informar. A partir dos números e gráficos um líder do Rio de Janeiro pode planejar o espaço do tempo oferecendo acesso e cuidados aos idosos porque sabe que o crescimento da terceira idade na capital fluminense tende a ser maior do que média nacional. Noutra cidade, consciente desse movimento migratórios dos aposentados, o líder dedicará maior atenção a questão da lidrança da igreja.
Com base na leitura do livro de Tournier e os recentes contatos com grupos afins de algumas igrejas (poucas, confesso) a sensação é de que a igreja está menos contextualizada a respeito da situação do idoso do que a sociedade civil. O recente Estatuo e as políticas públicas adotadas em poucas cidades de forma ainda modesta constituem avanços maiores do que os movimentos das igrejas sob o mesmo tema. A economia, em particular, já entendeu o potencial produtivo do idoso enquanto a igreja parece não ter percebido a fortes mudanças no seu rol de membros em 2030, 2043 e 2060, por exemplo. Com isso não quero ressaltar o aspecto econômico em si mesmo ou o número de membros friamente. O destaque econômico é quanto às angústias e dissabores financeiros que levam os idosos a abandonarem as merecidas férias (a aposentadoria) e voltar ao trabalho sendo explorados ou não. Quanto ao número de membros refiro-me ao maior cuidado necessário ao crescente número de idosos das/nas igrejas.
A igreja do futuro é velha
Esses dados devem servir de alerta porquanto a igreja reflete a sociedade (neste caso). Olhando a evolução das últimas décadas é possível prever com grande margem de certeza os próximos quarenta anos. Não serão as crianças a igreja do futuro, mas os longevos. A igreja do futuro será uma igreja velha composta de pessoas com conflitos, limitações e capacidades próprias à sua idade. A igreja precisa ficar atenta e agir o quanto antes.
Referências
Gráficos
Pirâmide etária (IBGE)
Nascimentos e óbitos (IBGE)
Notícias
Brasileira tem um terço dos filhos da década de 1940 (R7)
Número de nascimentos no Brasil cai 10% em 8 anos (VEJA)
Segundo IBGE mortalidade vai ultrapassar nascimento em alguns anos no Brasil (EPOCH TIMES)
Idosos são grupo que mais cresce no facebook (Estadão)
Idosos internautas compõem grupo que mais cresce nas redes (O Globo)
Brasil vai se tornar um país de idosos já em 2030, diz IBGE (Terra)
Cresce o número de idosos e faltam asilos no Amazonas (Diário do Amazonas)
Dados do IBGE apontam redução da natalidade no Amazonas (Diário do Amazonas)
Proporção de idosos no Brasil deve ser três vezes maior em 2060, diz IBGE (UOL)
Rio de Janeiro é capital brasileira com mais idosos (R7)
Rio tem 9 dos 10 bairros com mais idosos do Brasil, diz Censo 2010 do IBGE (R7)
Em 2040, população idosa vai superar número de jovens (R7)
Tempo de contribuição para aposentadoria pode aumentar (VEJA)
Fórmula 95/85 (A Tribuna)
Acolhimento e Envelhecimento (Área temática-Saúde do Idoso: SP - Texto em PDF)
Número de idosos dobrou nos últimos 20 anos no Brasil, aponta IBGE (UOL)
Emprego para mais velhos é o que mais cresce no país (Folha de São Paulo)
Contratação de idosos é dez vezes maior que de jovens (União Geral dos Trabalhadores - UGT)
Livro
É Preciso Saber Envelhecer (Paul Tournier)
Ano: 2014
Editora: Ultimato
ISBN: 978-85-7779-110-1
Páginas: 280
Assunto: Aconselhamento, Liderança, Vida Cristã
Os gráficos mostram aquilo que já vem sendo anunciado nos últimos anos: a população brasileira está envelhecendo. O número de pessoas com mais de 60 anos saltou de 8,6% da população brasileira, em 2000, para 10,8%, em 2010. No outro extremo houve grande queda no número de jovens até 19 anos. No total, houve um acréscimo de 21 milhões de pessoas em 2010.
Comparando este acréscimo nas faixas etárias percebe-se uma redução de 5,3 milhões de pessoas (-21%) entre os jovens de até 19 anos e, ao mesmo tempo, um aumento de 6,1 milhões de pessoas (41,7%) entre os mais idosos.
Estima-se que o grupo com 60 anos ou mais será maior que o grupo de crianças com até 14 anos em 2030 e, em 2055, irá superar o grupo de jovens com até 29 anos. Com o crescimento cada vez menor na base da pirâmide etária, em 2043, pela primeira vez, o número de mortes superarão os de partos em 2%. Esse percentual vai aumentar gradualmente até 2060 quando o número de idosos será três vezes maior do que hoje (em relação a 2013).
A longevidade é um dos fatores influenciadores deste fenômeno mundial. A expectativa de vida do brasileiro que era de 69,8 anos, em 2000, deve chegar a 81,2 anos em 2060 graças aos avanços da medicina e das políticas públicas adotadas pelos governos.
Expectativa de vida ao nascer - 2000/2060
Mas, para o pesquisador Gabriel Borges a longevidade não é o fator mais importante para o envelhecimento dos brasileiros. “O envelhecimento da população acima dos 65 anos tem a ver com a diminuição da fecundidade. Você diminui o número de jovens e tem o aumento relativo dos idosos. Mesmo sem o avanço da expectativa de vida, os idosos aumentariam”. Estudos mostram que as brasileiras hoje têm um terço dos filhos da década de 1940. Mesmo os estados do Norte/Nordeste registram uma forte queda no número de bebês (2,47% e 2,06% em média respectivamente). Esses números tornam-se ainda mais significativos quando considera-se a forte queda da mortalidade infantil nessas regiões. Ou seja, se há uma redução na mortalidade infantil então há de fato uma redução no número de bebês.
Os problemas sociais
Esse perfil mais maduro do brasileiro representa mudanças na estrutura das cidades. No Amazonas, por exemplo, faltam asilos. Para a vice-presidente da Fundação Dr. Thomas, Ana Lúcia Araújo, “o melhor acolhimento para o idoso ainda é no seio da família”. De modo geral o acesso ao lazer e a saúde são as maiores demandas sociais dos idosos do país.
Os problemas econômicos
A economia é o setor mais afetado por esse desequilíbrio: força produtiva versus aposentados. Segundo Ana Lúcia Saboia “Hoje em dia a população de idosos que recebe benefícios é muito expressiva, grande parte recebe contribuições de transferência de renda. Os trabalhadores (que irão se aposentar no futuro e em tem carteira assinada) têm mais garantias. O sistema previdenciário tem que estar atento ao envelhecimento”.
Enquanto o número de aposentados vem crescendo a população ativa vem caindo. Ora, grande parte dos recurso que pagam as aposentadorias (um direito) vem da força de trabalho dos mais jovens (em queda) e, como se diz na economia, a conta não fecha. É por isso que a partir de 1998 os governos vem alterando as regras para o recebimento integral do benefício. A contribuição dos aposentados para INSS e o valor proporcional (e não integral) do salário foram tentativas de equacionar o problema. Outra medida adotada foi a criação do Fator Previdenciário (FP) apelidado de fórmula 95/85. Para ter direito à aposentadoria integral o trabalhador precisa somar o tempo de contribuição com a idade (95 para os homens e 85 para as mulheres). Entretanto considerando-se a realidade atual, já se fala em 47 anos de contribuição para os homens e 42 para as mulheres.
A questão econômica é tão séria que hoje existem vários processos de desaposentadoria, o que, em linhas gerais, vem a ser o retorno do aposentado ao trabalho a fim de completar os anos necessários para aposentadoria integral.
A questão do Estatuto
Cumprindo seu papel legislativo o Estado aprovou o Estatuto do Idoso em 2003 (Lei 10.741/03) e a partir dele, estados e prefeituras vêm criando normas, procedimentos e adequações que visam atender a pessoa com mais de 60 anos.
Os problemas do Estatuto
Duas críticas são frequentes ao Estatuto. A primeira: pequeno avanço desde 2003. Políticas públicas não implementadas, direitos não respeitados e a assistência do Estado pouco presente. A segunda: A idade da pessoa idosa. Alguns analistas entendem que 60 anos, conforme os padrões da ONU, não é a idade mais adequada para se considerar uma pessoa idosa e sugerem a mudança para 65 anos.
Onde vivem os idosos
O estado de São Paulo comporta o maior número de idoso do país (5,4 milhões) e o Rio de Janeiro é a unidade da federação em que o grupo da terceira idade é mais expressivo em relação à população total (15%). Na lista dos dez bairros do Brasil com maior proporção de idosos, a capital fluminense possui nove segundo Censo 2010 do IBGE.
O problema da mobilidade urbana
A mobilidade urbana é um problema comum às grandes cidades e nos municípios com grande concentração de pessoas com mais de 60 anos o desafio torna-se ainda maior.
O acesso à informação
Outro desafio às prefeituras destes lugares é o acesso à informação. Muitos serviços não são usados pelo desconhecimento por parte dos usuários. Num Brasil que envelhece cada vez mais, a sociedade precisa participar da discussão de como tratar os idosos dos país suas demandas e seus direito porque essa é uma questão posta inexoravelmente a cada brasileiro mais cedo ou mais tarde.
A falta de preparo para velhice
Após uma longa pesquisa, Paul Tournier afirma em sua obra, É Preciso Saber Envelhecer, que a falta de preparo é a principal causa da baixa qualidade de vida na aposentadoria e na velhice. Para o autor é preciso planejar a aposentadoria entre os 40 e 50 anos porque, em geral, a aposentadoria apresenta-se como um momento muito angustiante para homens e mulheres.
“É terrível ... estou aposentado há três meses! Nunca pensei que fosse tão duro.”, confessa um velho amigo de Paul. No segundo encontro, ele torna a perguntar: “E então, como vão as coisas?” “Muito bem! O banco que eu trabalhava precisa organizar um trabalhinho de classificação, então me pediram para ir algumas horas por dia. É uma grande sorte”, responde o amigo. Conclui então o autor “... esse homem, capaz de encontrar tão facilmente novo impulso para um trabalho que, há pouco, deixaria para outro mais jovem ... contentava-se com uma modesta possibilidade de brilho; pouca coisa bastava para transfigurá-lo”.
Essa também é uma realidade no Brasil. Impulsionados pela necessidade de completar a renda ou de refrear a angústia da aposentadoria muitos voltam a mercado de trabalho e, na maioria dos casos, exercendo funções tidas como menores por eles a pouco tempo. Em fevereiro deste ano A Folha de São Paulo destacou: “Emprego para mais velhos é o que mais cresce no país”. Na mesma época o portal da União Geral dos Trabalhadores (UGT) publicou matéria sob o título “A contratação de idosos é dez vezes maior que de jovens.”
Em seu livro, Tournier também aborda a questão da aposentadoria da mulher. Numa entrevista, a esposa de Leon Zitrone declara-se feliz no seu papel de ajudar o marido famoso. “Quando está em casa é absorvente. Sempre precisa de uma coisa.” E logo a seguir, confessa: “Levamos uma vida muito dinâmica; se meu marido morresse, eu afundaria por completo.”
A perda de sentido da vida após a viuvez não privilégio de mulheres bem-sucedidas como ela. “Muitas mulheres sacrificam de bom grado sua vida pessoal, para satisfazer os caprichos do marido ... E subitamente, após a viuvez, a mulher se vê em meio a um deserto.” Esta é a realidade de grande número de viúvas (e viúvos) no Brasil.
Um destaque necessário: Paul Tournier começa pelo tema aposentadoria porque, em suas próprias palavras: “Se aposentadoria anuncia a velhice, esta anuncia a morte”, razão pela qual o último capítulo do livro trata da questão da fé.
A visão da igreja
Para Tournier há um ponto comum entre estes dois termos: “o indivíduo que busca o sentido da vida, ou o ancião que busca o sentido da velhice, no fundo questiona o sentido da morte ... no entanto o sentido da morte é um problema religioso por excelência.” O papel da igreja é fundamental neste contexto. “Se minha vida tem um sentido, se posso vivê-la olhando para frente e não para trás ... é porque ela caminha para além da morte”, afirma serenamente o autor. Tema imperativo, mas que exige enfoque diferente, naturalmente. “É preciso reconhecer que todas as nossas igrejas cristãs exploraram por séculos, e de forma abusiva, o medo natural dos homens diante da morte, para assegurar domínio sobre eles.”
A visão romântica do idoso
A obra de Tournier, feita sobre encomenda nos idos dos anos 70 e no contexto europeu, se apresenta bastante atual quanto a visão romântica sobre a pessoa idosa. “Manter falatórios joviais com um ancião, cuidando-nos para não nos referimos ao tema da morte, pode converter-nos em cúmplices desse artifício ingênuo, que deixará o velho sozinho à mercê de sua angústia”. Por vezes a igreja se deixa levar pelos modismos da sociedade e, de forma ingênua, adota termos como “melhor idade”, “boa idade”, entre outros. No fundo tais recursos, constituem, em certa medida, uma fuga dos temas que angustiam a pessoa idosa (termo politicamente correto para velho. Será?)
A visão decaída do velho
No prefácio do livro, o psiquiatra Joel Tibúrcio de Sousa - membro do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos destaca que “Os tempos são outros. Envelhecer hoje não é como envelhecer nos dias de Paul Tournier.”, referindo-se ao grande valor da obra apesar da diferença no contexto em que ela foi escrita, há 4 décadas. “Daí a provável estranheza de alguns exemplos do autor”, conclui.
Se por um lado a sociedade (e a igreja) ainda mantém uma visão romântica a respeito dessa fase da vida intitulada de melhor, maior, boa idade etc., por outro, a ideia de uma velhinha sentada numa cadeira de balanço fazendo crochê está longe de ser 100% verdadeira. Em 2103, nos EUA, a participação de usuários acima de 65 anos no Facebook cresceu 10%. No Brasil O Globo publicou matéria semelhante: “Idosos internautas compõem grupo que mais cresce nas redes. Presença nas redes é alternativa para fugir do isolamento do mundo real”. Assim como os avanços da medicina, a tecnologia e as ferramentas de interatividade tem ajudado o idoso a “fugir do isolamento”.
A chamada terceira idade não é tanto nem tão pouco como são mostrados na maioria dos casos. Há que se buscar um equilíbrio ou realismo, eu diria. Envelhecer é uma arte que pode ser aprendida e “É Preciso Saber Envelhecer é um livro urgente para ainda jovem igreja brasileira.” Numa combinação entre “conhecimento bíblico e psicologia, Paul Tournier aborda importantes questões, como tédio, solidão, saúde, aposentadoria, aceitação e morte. Um livro tão importante como este deveria ser lido por aqueles que estão na casa dos vinte, e para aqueles que estão chegando aos quarenta deveria ser leitura obrigatória”, cometa a revista cristã The Christian Century
Prólogo
Neste artigo busquei sintetizar e ao mesmo tempo extrair o máximo do material pesquisado visando alcançar três objetivos: 1) Informar: Organizando da forma mais clara possível as informações sobre o perfil dos brasileiros nos próximos anos (alguns dados nos surpreenderam); 2) Refletir: Oferecendo elementos a uma reflexão mais fundamentada na realidade do idoso e sua vida no seio da igreja; 3) Agir: Aguçando nos leitores o desejo de avaliar com maior profundidade o que foi aqui exposto no sentido de encontrar as resposta para realidade de cada igreja. (todas as referências usadas estão no rodapé).
Por exemplo, informar. A partir dos números e gráficos um líder do Rio de Janeiro pode planejar o espaço do tempo oferecendo acesso e cuidados aos idosos porque sabe que o crescimento da terceira idade na capital fluminense tende a ser maior do que média nacional. Noutra cidade, consciente desse movimento migratórios dos aposentados, o líder dedicará maior atenção a questão da lidrança da igreja.
Com base na leitura do livro de Tournier e os recentes contatos com grupos afins de algumas igrejas (poucas, confesso) a sensação é de que a igreja está menos contextualizada a respeito da situação do idoso do que a sociedade civil. O recente Estatuo e as políticas públicas adotadas em poucas cidades de forma ainda modesta constituem avanços maiores do que os movimentos das igrejas sob o mesmo tema. A economia, em particular, já entendeu o potencial produtivo do idoso enquanto a igreja parece não ter percebido a fortes mudanças no seu rol de membros em 2030, 2043 e 2060, por exemplo. Com isso não quero ressaltar o aspecto econômico em si mesmo ou o número de membros friamente. O destaque econômico é quanto às angústias e dissabores financeiros que levam os idosos a abandonarem as merecidas férias (a aposentadoria) e voltar ao trabalho sendo explorados ou não. Quanto ao número de membros refiro-me ao maior cuidado necessário ao crescente número de idosos das/nas igrejas.
A igreja do futuro é velha
Esses dados devem servir de alerta porquanto a igreja reflete a sociedade (neste caso). Olhando a evolução das últimas décadas é possível prever com grande margem de certeza os próximos quarenta anos. Não serão as crianças a igreja do futuro, mas os longevos. A igreja do futuro será uma igreja velha composta de pessoas com conflitos, limitações e capacidades próprias à sua idade. A igreja precisa ficar atenta e agir o quanto antes.
Referências
Gráficos
Pirâmide etária (IBGE)
Nascimentos e óbitos (IBGE)
Notícias
Brasileira tem um terço dos filhos da década de 1940 (R7)
Número de nascimentos no Brasil cai 10% em 8 anos (VEJA)
Segundo IBGE mortalidade vai ultrapassar nascimento em alguns anos no Brasil (EPOCH TIMES)
Idosos são grupo que mais cresce no facebook (Estadão)
Idosos internautas compõem grupo que mais cresce nas redes (O Globo)
Brasil vai se tornar um país de idosos já em 2030, diz IBGE (Terra)
Cresce o número de idosos e faltam asilos no Amazonas (Diário do Amazonas)
Dados do IBGE apontam redução da natalidade no Amazonas (Diário do Amazonas)
Proporção de idosos no Brasil deve ser três vezes maior em 2060, diz IBGE (UOL)
Rio de Janeiro é capital brasileira com mais idosos (R7)
Rio tem 9 dos 10 bairros com mais idosos do Brasil, diz Censo 2010 do IBGE (R7)
Em 2040, população idosa vai superar número de jovens (R7)
Tempo de contribuição para aposentadoria pode aumentar (VEJA)
Fórmula 95/85 (A Tribuna)
Acolhimento e Envelhecimento (Área temática-Saúde do Idoso: SP - Texto em PDF)
Número de idosos dobrou nos últimos 20 anos no Brasil, aponta IBGE (UOL)
Emprego para mais velhos é o que mais cresce no país (Folha de São Paulo)
Contratação de idosos é dez vezes maior que de jovens (União Geral dos Trabalhadores - UGT)
Livro
É Preciso Saber Envelhecer (Paul Tournier)
Ano: 2014
Editora: Ultimato
ISBN: 978-85-7779-110-1
Páginas: 280
Assunto: Aconselhamento, Liderança, Vida Cristã
Achei muito interessante teu texto, mas noto que a frequência de idosos na igreja tem diminuído, os jovens se tornam mais presentes. Talvez isso só aconteça apenas em determinadas regiões... Adorei o livro que citou, muito legal
ResponderExcluirObrigado por sua opinião.
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