Direto da sala da EBD. A pergunta desconcertante era: “Hananias cria mesmo na profecia que ele fez?”
Em primeiro lugar, os títulos da Bíblia (de todas) foram criados depois dela estar pronta (depois do Cânon). Portanto, chamá-lo de falso profeta é título e não texto bíblico.
Em segundo lugar, a pergunta era temporal, isto é, não anacrônica. A leitura e interpretação da bíblia costuma ser quase que 100% vezes anacrônica. Ou seja, o leitor, já conhecedor dos resultados, analisa os erros dos envolvidos quando eles não tinham a menor certeza do que iria acontecer.
Ora, Hananias repetiu a profecia de Jeremias, mas ... sutilmente divergiu dele quanto aos anos de cativeiro. Enquanto Jeremias havia profetizado setenta anos de cativeiro na Babilônia, Hananias falou em dois anos.
Jeremias: “Acontecerá, porém, que, quando se cumprirem os setenta anos, visitarei o rei de babilônia, e esta nação, diz o SENHOR, castigando a sua iniqüidade, e a da terra dos caldeus; farei deles ruínas perpétuas.” (Jr 25,12)
Hananias: “Depois de passados dois anos completos, eu tornarei a trazer a este lugar todos os utensílios da casa do SENHOR, que deste lugar tomou Nabucodonosor, rei de babilônia, levando-os a babilônia.” (Jr 28,3).
Antes de julgarmos o segundo profeta como falso, termo que, repito, não está na Bíblia, é preciso atenção à resposta do próprio Jeremias. “Disse, pois, Jeremias, o profeta: Amém!” (Jr 28,6). Amém quer dizer, assim seja, portanto Jeremias está concordando com a profecia de Hananias e não o desmentido.
O contexto de Judá sob quem a profecia se refere, era péssimo. O Reino do Norte já havia sido destruído e o Reino do Sul (Judá) estava sob o controle do rei da Babilônia, Nabucodonosor (cap. 25-27).
Jeremias não é conhecido como o “profeta chorão” por acaso. Ele tinha grande tristeza em seu coração por causa do grande sofrimento de seu povo. Ver duas gerações no exílio, 70 anos, era muito triste e certamente ninguém desejava isso; nem o rei, nem o povo, nem os profetas Jeremias e Hananaias. Por outro lado, muitas vezes o Senhor “mudou de ideia” diante do arrependimento de seu povo e até de outros povos, como os Ninivitas, por exemplo (livro de Jonas). Além disso, recentemente o Senhor havia livrado Judá da destruição certa de uma forma milagrosa (2 Rs 19) e todos sabiam disso. Mas havia uma diferença, Jeremias era prudente:
“Os profetas que houve antes de mim e antes de ti, desde a antiguidade, profetizaram contra muitas terras, e contra grandes reinos, acerca de guerra, e de mal, e de peste. O profeta que profetizar de paz, quando se cumprir a palavra desse profeta, será conhecido como aquele a quem o Senhor na verdade enviou.” (Jr 28,8-9).
Ora, todos os profetas antes dele profetizaram de males e pestes, agora Hananias profetizava de prosperidade, então somente se a profecia se cumprisse era vinda do Senhor.
Infelizmente, aquela notícia boa, a qual todos queriam ouvir e trazendo alegria aos corações era apenas movida pelos sentimentos e percepções do profeta Hananias. Suas emoções o levaram a mentir em nome de Deus e trazer grande sofrimento ao povo. Ao quebrar jugo de madeira, que o Senhor mesmo havia mandado, acabou por piorar a situação de Judá.
“E agora eu entreguei todas estas terras na mão de Nabucodonosor, rei de babilônia, meu servo; e ainda até os animais do campo lhe dei, para que o sirvam. E todas as nações servirão a ele, e a seu filho, e ao filho de seu filho ... E acontecerá que, se alguma nação e reino não servirem .. e não puserem o seu pescoço debaixo do jugo do rei de babilônia, a essa nação castigarei com espada, e com fome, e com peste, diz o SENHOR, até que a consuma pela sua mão” (Jr 27,6-8).
E foi isso que fez Hananias, rejeitou o jugo: “Então Hananias, o profeta, tomou o jugo do pescoço do profeta Jeremias, e o quebrou.” (Jr 28,10).
E disse ainda, “Assim diz o SENHOR: Assim, passados dois anos completos, quebrarei o jugo de Nabucodonosor, rei de babilônia, de sobre o pescoço de todas as nações.” (Jr 28,11).
Diante destas palavras e sem a certeza de qual seria o veredito do Senhor Jeremias decidiu ir embora. Jeremias não contendeu com Hananias, antes foi prudente e, ao ser confrontado, fez silêncio. Mas a dúvida não ficaria em seu coração, o Senhor não mudaria de ideia, não desta vez. Agora o jugo seria de ferro, a morte e a peste viriam por causa da desobediência do povo que decidiu dar ouvidos a Hananais, ou melhor, às suas próprias emoções.
Ainda que tenha dito amém preferiu ouvir o Senhor a ouvir o seu coração. Por mais dura ainda que fosse a mensagem de Deus, Jeremias ficou com ela. (Jr 28,13-14).
Hananias fez com que o “...povo confiasse em mentiras.” (Jr 28,15). Mentira, essa é a palavra descrita na Bíblia e não “falso”.
Numa sociedade tão embrutecida como a nossa, é claro que emoções (boas) são mais que bem vindas. Mas quando se trata da Palavra de Deus, as emoções não são boas conselheiras. No caso de Hananias custou-lhe a vida. “E morreu Hananias, o profeta, no mesmo ano, no sétimo mês.” (Jr 28,17).
Quanto à pergunta “Hananias cria mesmo na profecia que ele fez?” a resposta está diluída no corpo do texto. Examine a Bíblia e o texto com cuidado e encontre você mesmo a resposta.
Nossa gratidão ao professor Walmir da igreja do
Méier por suas considerações.