19 de abril de 2012

Pelo "direito" de errar


Não se trata de uma apologia ao erro, contudo, quem nunca errou que atire a primeira pedra.

Antes de começar é preciso marcar alguns pontos. Primeiro, quando alguém comete um erro com alguém ou consigo, nada poderá mudar este fato. Nada! Segundo, alguns erros são irreparáveis outros não: pode-se restituir um bem, mas não a vida. Terceiro, pode-se passar a vida toda dizendo “não me arrependo de nada”. Ou seja, nunca erro. Quarto, pode-se passar a vida toda com a espada da culpa sobre a cabeça e isso cauda dor. A estes pergunto: como se livrar da culpa? Nestas últimas semanas esse foi o assunto. Culpa, culpa, culpa.

Estamos sempre procurando um culpado para as coisas, e não é de hoje. Adão culpou Deus por seu erro: “A mulher que [TU] me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi”. (Gênesis 3,12). Confrontar-se com o erro, normalmente, leva a uma atitude de fuga porque admiti-lo é sempre uma realidade indesejável. “Aqui, todos somos inocentes!” Esta declaração do filme Um sonho de liberdade, demonstra o quanto desejamos fugir da realidade de admitir: errei! A questão é conviver com a dor de saber: errei.

Por vezes, essa dor é tão intensa que criamos desculpas, mundos paralelos e justificativas. Enfrentar? Nunca! Como se livrar da culpa ou, como se livrar da dor? Sinceramente, eu não sei, mas sei como aconteceu comigo.

Durante logos anos nutri um grande ódio por meu pai. Isso só me fazia mal, e eu sabia, mesmo assim eu o alimentava. Por razões que carecem de longa explicação, um dia consegui perdoá-lo. Perdoei o imperdoável. Perdoei o irreparável. Perdoei-o, mesmo sendo ele já falecido. Que dia extraordinário foi aquele. Um peso gigantesco deixava meus ombros, para sempre, depois de longos anos de escravidão.

Mas como isso foi possível? Simples, naquele dia vi meu pai como um ser humano. Alguém humano, como eu. Alguém que, como eu, comete erros; alguns irreparáveis (embora não estejamos falando de matar ninguém). A imperfeição e a maldade faz parte de nós. Nós os seres humanos. Só “deuses” nunca erram. Não que desejemos tais coisas, ao contrário: “Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço” (Romanos 7,19). A questão é que não nos olhamos como somos, mas como desejávamos ser. Somos mais cruéis conosco do que o próprio Senhor: “Ele, porém, que é misericordioso, perdoou a sua iniqüidade; e não os destruiu, antes muitas vezes desviou deles o seu furor, e não despertou toda a sua ira. Porque se lembrou de que eram de carne, vento que passa e não volta”. (Salmos 78,38-39).

Portanto, não se trata de apologia ao erro, mas de sermos mais tolerantes; primeiro conosco depois com o próximo. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. (Mateus 22,39) Logo, ninguém ama o próximo se não se ama. De igual modo ninguém perdoa a próximo se não se perdoa. Neste sentido, se dê o “direito” de errar. Ou seja, aceito o fato de que você às vezes erra por mais que se esforce pra não fazê-lo, você erra. Admita. Admita, contudo, sem se torturar. Nisto, também poderá perdoar o seu irmão.

Funciona assim: se olho para mim como sou, com todas as minhas mazelas, percebo minhas falhas. É aí que vem um grande segredo chamado arrependimento. Se eu me arrependo, então, desejo ardentemente livrar-me da culpa e da dor. Desejo ser perdoado. Olhando sob este ponto de vista (admito errar, me arrependo e desejo o perdão) posso também perdoar o outro e voltar a ser livre. Livre da culpa: porque não posso mudar o passado, no máximo posso tentar reparar o mal que fiz. Livre da dor: porque entendo a minha fragilidade e passo a entender a dor de quem também me ofendeu. “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores”. (Mateus 6,12).

Lembrar ... sim,

doer ...

nunca, nunca mais.

2 comentários:

  1. É um máximo vc escrevendo!!! Eu nunca posto comentários pq eu sempre fico sem palavras rsrs. Apesar de nascida na igreja eu tenho poucas experiências (pelo menos eu acho), e a mais dificil foi me perdoa por não chegar nem perto da perfeição. Estranho isso, eu sei. Mas foi algo que me atormentou por anos até que eu entendi que perfeito só Deus, e o que ele quer de mim é sinceridade. Mudou a minha vida o dia em que descobri isso, tudo ficou mais leve.
    ps: já estou vendo o dia que esse blog vai caminhar para um livro.

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    1. Querida Lidiane, (querida mesmo).

      Ficou feliz por suas novas conclusões. Eu nunca pude entender um Deus que pune. Sempre penso num Deus que ama. E por amor se entrega. Por amor corrige (diferente de punir).

      Se Ele é assim não faz nenhum sentido que nós sejamos mais rigorosos que Ele. O cristianismo deveria ser mais leve. (Não falo de falta de compromisso, pelo contrário). Falo de relação de amor. Um amor totalmente comprometido. Amor construído com a convivência. Aquela de Adão e Deus lá no jardim.

      Todas as tardes estavam juntos. Naquele tempo o homem era mesmo feliz, conquanto não fosse perfeito. Se pecado não havia, perfeição também não porque o homem sempre foi limitado.

      Que Deus lhe abençoe e que você possa ser bênção em todos os lugares onde andar.

      Com carinho,

      Leo.

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