25 de agosto de 2016

Alguma coisa está muito errada com esse nosso Evangelho!

Era madrugada e, antes retornarmos, decidimos parar pela primeira vez naquela calçada. De repente, alguém do grupo nos chamou para orarmos por Lorelaine (nome fictício), uma jovem gestante.

– Para quando é esse bebê?

– Para o mês que vem, respondeu-me com um sorriso aberto.

Ela parecia animada com a chegada da criança enquanto eu, pai de duas meninas, mal pude disfarçar minha preocupação.

– Onde ele vai nascer?

– No Carmela Dutra, disse ela cheia de confiança e sorridente.

Sem mais, oramos pela vida da mãe e do bebê pedindo ao Senhor que tudo corresse bem para ambos. Terminada a oração, ela nos agradeceu, se afastou um pouco e foi deitar no seu papelão cobrindo a cabeça com um cobertor. Alguém do nosso grupo, que conversava com ela há mais tempo, comentou: “Vai dormir feliz hoje porque está com a barriga cheia”.

Lorelaine foi a última pessoa com quem falamos naquela madrugada e, talvez por isso, a lembrança daquele encontro esteja tão viva. A imagem de uma jovem feliz pelo alimento de uma noite; animada com a chegada do filho e; tranquila ao deitar-se, ali, no papelão, protegida por um simples cobertor, dividindo o espaço com outros que fazem da calçada o seu quarto.

Muitas são as razões e experiências que levam as pessoas a viverem nas ruas do Rio de Janeiro. No entanto, momentos como estes são chocantes, mesmo quando a pessoa se sente feliz e tranquila. É o tipo de experiência que deixa marcas profundas no nosso coração. Não consigo parar de pensar naquela jovem gestante e no futuro provável que dará ao seu filho: viver nas ruas dependendo da caridade dos outros.

Das tantas perguntas ou respostas possíveis às situações desse tipo, uma é demasiada incômoda. O que será que está errado com esse nosso Evangelho? Porque sobre uma coisa não há qualquer sombra de dúvida: esse Evangelho que pregamos não está fazendo diferença, ou fazendo muito pouca, na sociedade em que vivemos.

“Então, dirá o Rei a todos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, abençoados de meu Pai! Recebei como herança o Reino, o qual vos foi preparado desde a fundação do mundo. Pois tive fome, e me destes de comer, tive sede, e me destes de beber; fui estrangeiro, e vós me acolhestes.” (Mt 25.34-35)

3 comentários:

  1. Excelente reflexão. Será que ainda é o Evangelho o que pregamos e vivemos?

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    Respostas
    1. Essa é uma questão importante meu amigo, diria fundamental.

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    2. Essa é uma questão importante meu amigo, diria fundamental.

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