Por: Adalberto Alves de Sousa
No nosso calendário, são muitas as datas comemorativas. O número delas ultrapassa o dos dias do ano. Cada uma daquelas consideradas muito importantes transformou-se em feriado nacional. Outras são marcadas por grandes eventos, e algumas, por um aumento considerável de vendas no comércio. Mas a grande maioria dessas datas nem sequer é conhecida pelo grande público. Neste caso encontra-se o 10 de junho, Dia da Língua Portuguesa. Por que será que, mesmo em se tratando de um dos maiores patrimônios do povo brasileiro, essa data não costuma ser mencionada nem em nossas escolas?
Conforme podemos observar em nosso dia a dia, o português é vítima de descaso por parte das autoridades e também da população. Nesse contexto, nossa língua, como nossa cultura em geral, não é importante (está aí o esquisito Halloween para provar isso). Damos muito valor às línguas estrangeiras, principalmente ao inglês. Basta andarmos pela rua para cruzarmos com pessoas com roupas que estampam dizeres nessa língua, muitas vezes com letras garrafais. No lançamento de empreendimentos imobiliários é quase obrigatório que os produtos sejam apresentados com nomes estrangeiros. “Sala, quarto, cozinha, banheiro”, nem pensar; não atraem o comprador. Centro Comercial passou a ser Shopping Center; liquidação é OFF. No Rio de Janeiro temos o New York Center, com uma réplica da Estátua da Liberdade na entrada. E assim vamos desprestigiando a passos largos a nossa língua. Um fato muito interessante ocorre com os nomes próprios. Na tentativa de pôr nos filhos nomes de figuras notórias, pais fazem surgir alguns como Uoston, Maycom, Kathellym, cada um mais exótico que o outro. Também há uma tendência de inovar na grafia dos nomes: Phillipy, Antthonya, porque nome que se preze tem de ter consoante dobrada, h e y. Um fato frequente em nossas universidades é a rejeição de dissertações de mestrado e de teses de doutorado, por parte de orientadores, pelo fato de estarem redigidas num nível muito aquém daquele esperado de um mestre ou de um doutor. Essa é uma das consequências do descaso já citado e da falta de interesse pelo estudo do idioma na formação básica. Esse quadro jamais será mudado enquanto nós, como povo brasileiro, não nos conscientizarmos do papel importante que a nossa língua desempenha em todas as áreas de nossas atividades.
O profeta Isaías foi preciso ao sintetizar o que é a língua usada com propriedade: “O Senhor Deus me deu a língua dos instruídos para que eu saiba sustentar com uma palavra o que está cansado; ele desperta-me todas as manhãs; desperta-me o ouvido pra que eu ouça como discípulo. O Senhor Deus abriu-me os ouvidos, e eu não fui rebelde, nem me retirei para trás” (Isaías 50.4,5). Ele começa por afirmar que “a língua dos instruídos” é uma provisão divina. Ou seja, é Deus quem nos capacita a usá-la. Mas deixa claro que essa capacitação nos é dada com o objetivo específico da comunicação: “para que eu saiba com uma palavra levantar o que está cansado”. Em seguida o profeta esclarece que somos instruídos por meio de um processo, que é: 1) sistemático – “ele desperta-me todas as manhãs”. Desperta para quê? Para que haja dedicação ao estudo da língua; 2) inteligente – “desperta-me o ouvido para que eu ouça como discípulo”, não como aquele que se limita a decorar regras, mas como o que aprende de verdade; 3) dócil – “O Senhor Deus abriu-me os ouvidos, e eu não fui rebelde”. Aquele que estuda não pode se rebelar contra o próprio estudo, mas aceitá-lo e procurar aplicá-lo da melhor forma possível; 4) responsável – “nem me retirei para trás”. É triste ver que alguns diante das primeiras dificuldades desistem e perdem a oportunidade de concluir o que foi iniciado.
Creio que, tendo em mente o que nos ensina o profeta, podemos, como famílias, trabalhar para mudar o triste estado em que se encontra o nosso idioma. Uma forma muito eficiente é introduzirmos nossas crianças no mundo da leitura. (Hoje, alguns pais estão lendo histórias para filhos que ainda estão em fase de gestação!). A partir da alfabetização, crianças precisam ler livros. A leitura deve ser tarefa diária na vida de uma criança. Bons autores escrevem livros para as diversas faixas etárias. No começo os pais leem para os filhos; depois leem com os filhos, e por fim supervisionam a leitura deles. A criança precisa aprender desde cedo a ser sistemática. Deve ter horário para dormir, para acordar, para tudo, inclusive para o lazer.
Uma boa formação acadêmica começa com capacidade de comunicação, tanto escrita quanto oral, e a leitura é uma excelente ferramenta para a consecução desse objetivo. Ao se familiarizar com o idioma por meio da leitura sistemática de autores consagrados, aquelas regras que a escola tanto se preocupa em ensinar são assimiladas automaticamente pela criança. Atualmente, por iniciativa particular, bibliotecas têm surgido em várias comunidades.
É muito bom também que os pais de alunos de uma escola se organizem para ativar um plano de leitura para todos os alunos da turma de seus filhos. Uma ideia que tem dado certo é cada pai oferecer, a cada semestre, um livro, entre vários selecionados criteriosamente, para a biblioteca da escola, o que possibilita que todos os alunos sejam beneficiados. Uma outra ideia é divulgarmos nas redes sociais o Dia da Língua Portuguesa. Mesmo sem ser ADVOGADO, cada um de nós pode ser um defensor da nossa língua.
Quem sabe no futuro nos orgulhemos da Língua Portuguesa, e até comemoremos a sua data. Mas para que isso aconteça precisamos prestar bastante atenção quando formos convocados para votar. Nosso voto é a arma mais poderosa que temos em nossas mãos, ou na ponta de nosso dedo.
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NOTA: Dois dias após a comemoração do Dia da Língua Portuguesa em 2006 (10 de junho), foi criado no Brasil o Dia Nacional da Língua Portuguesa no Brasil: 05 de novembro (Lei nº 11.310, de 12 de junho de 2006). Em 2009 a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), por meio da XIV Reunião Ordinária do Conselho de Ministros, escolheu o 05 de maio como o Dia da Língua Portuguesa. O dia 10 de junho foi escolhido como uma homenagem ao poeta português Luís de Camões, falecido em 10/06/1580; o 05 de novembro homenageia Rui Barbosa, que nasceu em 05/11/1849.
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