Aqueles dias eram sempre diferentes. A rotina da casa mudava. Naqueles dias eu buscava minha filha na escola, almoçava em casa e chegava mais tarde no trabalho só porque nas terças-feiras ele vinha almoçar conosco. A rotina da minha esposa também mudava. Ela caprichava mais e, mesmo na sua simplicidade, tentava fazer as coisas de um modo todo especial só porque nosso amigo vinha almoçar conosco. Nos alvoroçávamos. Eu passava no mercado para comprar algo diferente, uma sobremesa, um refrigerante ou um sorvete.
Lembro que certa vez não estava bem com minha esposa, mas logo tudo se dissipou, afinal ele vinha a nossa casa e vinha para almoçar conosco.
Não, não era pelo almoço; era ele, o meu amigo. Nos tornamos tão próximos que eu fazia questão de encontrá-lo no trabalho. Como era bom ir caminhando naqueles 300 ou 400 metros que separam o CIEM do Seminário. E eu não poderia perder um minuto sequer de sua companhia porque ele era (e é) um amigo especial. Ah, como aquelas horas que passávamos juntos tornaram-se únicas.
E foi na simplicidade da nossa sala e durante aqueles almoços que nossa amizade foi crescendo. Ali ele não era o pastor, não era o médico, nem mesmo o professor. Ele era só meu amigo. O meu amigo sabia que poderia dizer o que pensava sem medo de ser censurado ou julgado. Caminhada, almoço e Seminário, a cada encontro nossa amizade crescia.
Aquelas terças do outono costumavam esfriar ao final do almoço, e então ele sempre dizia: “Com essa chuvinha e esse friozinho, humm... “. Mas ele era muito responsável e teria aula em seguida. Nunca entendi por que ia à aula da tarde se nada recebia por isso, mas nunca o questionei.
No primeiro almoço minha esposa resolveu experimentar um bolo que aprendera com uma amiga. Um bolo de chocolate que fica pronto em cinco minutos no micro-ondas. Que delícia! Diante daquele bolo quentinho e do dia frio convidativo a uma soneca foi que ele disse: “Esse bolo fica muito bom com....”. Confesso que levei alguns segundos parado pensando na resposta até que de repente disse: “com café”. Com seu jeito terno e seu humor contido ele sorriu meio de lado.
Tivemos outros almoços e outras sobremesas, mas nunca vou me esquecer do café com bolo de micro-ondas.
Mas um dia suas aulas terminaram e nunca mais as terças-feiras foram iguais. E agora meu amigo ia embora e de fato foi. Numa das noites mais frias de 2009 ele partiu. Que ironia e crueldade para mim, ele viajou justamente no dia do amigo e eu não pude me despedir dele.
Na última vez que nos encontramos fomos à Quinta da Boa Vista. Colocamos nossas filhas no pedalinho e passeamos pelo lago com elas. Mal sabia eu que esse seria nosso último encontro.
Tempos difíceis foram aqueles. Ele andava triste e talvez por isso mesmo nos tornamos tão próximos. Mas como era bom ver seu sorriso franco, por isso vivia contar-lhe piadas. A Ida também é muito risonha, mas fazê-lo rir era muito bom.
Hoje meu amigo está completando mais um ano de vida. Para mim um dia especial porque me alegro com ele, sua esposa e seus filhos, por sua vida. Sei que muitos o conhecem como um homem de Deus e nem sabem o seu nome; outros oram por ele e nunca estiveram com ele; e há quem tenha estado com ele sem o conhecer. Para alguns é um grande missionário da Junta de Missões Mundiais, para outros um médico conceituado e poliglota; há também quem o considere um grande pastor e um excelente pregador. Sim, de fato ele é isso tudo mesmo.
Homem de modos educados, formado pela escola européia, é muito simples e também generoso. Mas para mim ele é tão somente Joed Venturini, o meu grande amigo.
(Peço desculpas ao leitor deste blog por este particular. Mas se você soubesse quem é Joed Venturini certamente entenderia).
Agradecimento especial ao Prof. Adalberto.
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Caro Leo:
ResponderExcluirFoi dificil conter as lágrimas... aquelas tardes foram sempre especiais porqu com você e sua linda familia eu podia ser eu mesmo e é isso que significa ser amigo. Vosso dom de hospitalidade me tocou e o recordarei sempre. Obrigado por seu lindo presente de aniversário. Do seu amigo
Joed Venturini
Leonardo,
ResponderExcluirDepois de ler o teu blog, fiquei com vontade de ser teu amigo também!
Deus te continue a abençoar e a abençoar outros através de ti e da tua família.
PA
Olá Leonardo!
ResponderExcluirDifícil não ficar com um nó na garganta ! Que depoimento - de amigo e de irmão - lindo e singelo!
Moro em Portugal, sou brasileira, e, apesar de sempre ter ouvido falar da Família Venturini, da excelência do trabalho que desempenharam e da dedicação com que sempre o fizeram, nunca tinha tido o prazer de os conhecer. Agora isso aconteceu! E é um grande prazer para mim saber que irei encontrar o Pastor Joed, a Esposa, D. Ida, e os Filhos, na Igreja que frequentamos. Agora, privo, também, da família Venturini, como irmãos em Cristo que somos e Filhos do mesmo Deus e Senhor. E não há um único domingo em que não saia abençoada e esclarecida, pelas palavras certeiras com as quais o Senhor inspira o Pastor Joed. E mais: sinto-me mesmo muito orgulhosa de ser brasileira, como ele e sua família. E oro sempre para que o Senhor, o abençoe grandemente e à sua família de tal forma que ele possa cumprir entre nós, aqui em Portugal, nessa cidade de Lisboa, nas nossas vidas e nos nossos corações, todos os propósitos para os quais o Senhor o enviou. Porque certamente o enviou a Seu serviço e isso sente-se, na alma.
O seu testemunho foi lindo !
Cumprimentos da Lina