A letra da música de Chico Buarque narra o relacionamento de um que homem que gradativamente vai fustigando a mulher até que ela, finalmente, o trai.
Este é um apólogo; uma criação deste autor cujas personagens são: o esposo, a sociedade, a esposa “amada”, a amante, os filhos desta e os filhos daquela. Esta estória é uma ficção e não se baseia na vida particular de ninguém.
Ele a viu crescer e logo que floresceu casou-se com ela. E do casamento vieram os belos filhos. Ela era a amada de seu esposo, o valor da sociedade e o orgulho dos seus filhos. E ele não cansava de declarar-lha seu amor.
No entanto, aos poucos, ele a foi esquecendo até que um dia oficializou a sua amante. A sociedade não estranhou, ao contrário achou natural, afinal ele era um esposo dedicado e sempre declarava seu amor a esposa de quem tinha o maior orgulho. De fato, a sociedade sempre se referia à “esposa eleita” com toda formalidade e respeito.
E seus filhos? Eram sempre os preferidos. Os filhos da amante não tinham os mesmos privilégios nem o mesmo reconhecimento. Portanto a sociedade entendia que a esposa não estava perdendo seu status. E foi assim, que dia após dia o relacionamento foi se esfriando.
Logo, a esposa começou a padecer necessidades. Não tinha mais a atenção do esposo e seus filhos não tinham mais a atenção do pai. Ainda assim, na sociedade, ela figurava como a titular e os filhos como “legítimos herdeiros”.
Então, também o dinheiro começou a faltar e ela procurou o esposo. Mas todo que ele fazia e dizer que a amava. Ela procurou ajuda na sociedade e esta, apenas dizia que a admirava. A ajuda do esposo e da sociedade mal dava para sustentar os filhos apesar de serem motivo de orgulho de ambos. E foi assim, que sem saída, ela começou a se vender.
O mais incrível é que ninguém achou ruim, exceto por um resmungo aqui e ali. Ela foi padecendo pouco a pouco e deixando de ser admirada. Mantinham-se ainda de pé, a pose da esposa amada e de filhos virtuosos. A verdade é que a amante e seus filhos tinham mais atenção do esposo e mesmo assim ninguém disse nada, ninguém viu nada, ninguém ouviu nada. Ninguém ouviu o seu choro, no início muito alto, depois sofrido e calado.
Qual será o fim da esposa e seu “reino de glória”? O que será de seus filhos?
No último estágio de decadência, um dos filhos escreve a seu pai um alerta como um último suspiro de quem vê a mãe morrendo pelo esquecimento do pai e da sociedade. Mas ainda não seria o fim. Antes de se entregar a morte ela ainda se entregará a maior das vergonhas. Ela se entregará ao terrível inimigo (do esposo e da sociedade) não por revolta ou dor, mas por pura necessidade de sobreviver.
Neste dia a sociedade não mais falará dela com orgulho, mas com desprezo. Seus filhos não serão mais desejados porque a marca da mãe passará para eles. Então se levantará primeiro o esposo indignado a dizer: como foste capaz de tamanha traição se sempre te amei? Depois a sociedade irá perguntar-se: como foi ela capaz de tamanha ingratidão se sempre teve de tudo?
Tragédia é perceber que ambos sabem a resposta. Deveria o esposo pedir perdão porque QUEM AMA CUIDA. Deveria a sociedade pedir perdão porque sabe muito bem consentiu na amante a despeito da esposa. Tragédia é saber que neste dia será tarde demais. Ela já terá vendido sua alma. Seus filhos ficarão órfãos e estigmatizados. Tragédia é saber que, muito provavelmente, culparão a esposa e seus filhos e ainda irão dizer: vamos apoiar à amante e aos seus porque esta foi sempre fiel ao esposo. Afinal, seus filhos (ilegítimos) também são descendência do pobre esposo traído.
A letra da música mostra a visão da mulher e tudo que a levou a tomar àquela atitude. E nos últimos versos está escrito: “Te perdôo...Por te trair”.
“Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo”. (Efésios 5:28)
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