
Nos últimos anos havia superado muitos desafios mesmo assim os novos problemas, agora exclusivamente seus, não eram menos profundos. A desconfiança também não diminuíra. Perdera a inocência para sempre.
Foi assim que viveu um dos momentos mais difíceis emocionalmente. Quem havia de lhe prestar socorro, ou no mínimo não piorar a situação, era justamente quem o fustigava. Não se tratava de perseguição, mas de interesses escusos que estavam para além dele. Seu líder não o queria mal, ele era apenas um obstáculo a ser removido.
Aquilo caiu como uma bomba sobre sua instável situação emocional. Como poderia ele, o líder, ser tão incoerente entre o discurso e a prática? Era um contrassenso total. Na situação em que vivia tudo foi potencializado a milésima potência. Perseguição, obsessão, sadismo, mentira, cinismo etc., estavam associadas à imagem daquele homem de fala mansa e discurso piedoso.
Segundo a biologia há uma explicação para reação daquele jovem associada a imagem/lembrança do homem. O mecanismo da memória é a reconstrução sináptica do cérebro. Isto é, lembrar traz as mesmas sensações do passado: alegria ou dor.
A presença daquele homem, catalizada por suas experiências, causava imensa angústia ao rapaz. Cada vez que narrava sua história, a simples menção do nome e dos acontecimentos envolvendo aquela pessoa o fazia “perder o controle”. O coração acelerava, a pressão subia, a voz ficava embargada e alterada.
A pergunta mais eficaz que lhe fizera seu amigo acabou por desatar os vários nós de sua mente e garganta. – E você vai permitir que ele faça isso com você?
A primeira vista tal pergunta não fazia sentido. – O que posso fazer? Retrucou. – Ele tem credibilidade, tem o poder, tem prestígio. E eu? Não sou nada nem ninguém. Quem vai acreditar em mim ou na minha história?
Com paciência e sabedoria o amigo voltou à mesma pergunta e completou. – Olha pra você, olha seu estado. Você está todo alterado por causa deste sujeito. Será que vale a pena?
Após uma pequena pausa, continuou. – Rapaz, você está assim, desse jeito, e ele nem está aqui. E tornou a perguntar. – Você vai permitir que ele faça isso com você?

Pense nisso, peça ajuda e viva mais feliz!