27 de fevereiro de 2017

O que é integridade à luz da Bíblia

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Valores são qualidades atribuídas a pessoas, coisas ou ações. Na antiga Grécia a coragem era um valor porque, naquele contexto de constantes disputas territoriais, essa era uma virtude desejável para se defender a pólis (a cidade), mesmo que isso significasse perder a própria vida. Segundo o professor Clóvis de Barros Filho, “valores são aquelas coisas que definem quem você é”. Para ele, quem trai os seus valores não sabe mais quem é e perde a própria identidade.
A palavra integridade deriva do Latim, intĕgrĭtās, e significa (de modo resumido): 1) aquilo que é fisicamente inteiro (corpo, território etc.); 2) aquilo que é puro sem máculas ou violações (mente, palavras, ações); 3) que tem estado perfeito (saudável) e 4) o que guarda inocência (uma vida pura). Integridade enquanto valor é algo ligado ao caráter, a probidade, a mente inteira, ao comportamento ético e as palavras que reflitam pureza: sem máculas, sem segundas intenções ou aliciamentos.
Na Bíblia não encontramos uma palavra correspondente direta de integridade: nem no hebraico nem no grego. No entanto, ante a exigência moral e ética do conceito, pode-se afirmar que a Bíblia, como um todo, carrega uma mensagem da integridade exigida e necessária a todo homem no seu relacionamento com Deus, sobretudo no Novo Testamento. O conceito de integridade está tão arraigado na Escritura que a palavra πεπληρωμένα (peplērōmena-completo, cheio até o máximo), traduzida normalmente como “perfeita”, na versão King James é traduzida como integridade. “Sê alerta! E fortalece o que ainda resta e estava prestes a morrer; porque não tenho encontrado integridade em tuas obras diante do meu Deus” (Ap 3.2).
Integridade da mente é a característica principal do cristão.  O apóstolo Paulo fala da renovação da mente onde o novo homem pensa de modo diferente do velho homem. A mente é de tal modo importante que a palavra traduzida como arrependimento é μετανοια (metanóia), mudança de mente. No Antigo Testamento guardar o coração (lebab-homem interior, mente, vontade, coração, alma) semanticamente significa guardar a mente. Em Lucas 6.45, certamente Jesus se refere a mente quando afirma: “a boca fala do que está repleto o coração”. Jesus ensinando sobre seus critérios afirma: “Se permanecerdes na minha Palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos”. O discípulo tem sua forma de pensar totalmente diferente da maneira antiga porque a Palavra permanece no seu coração.
Uma mente íntegra leva a atitudes diferentes diante das circunstâncias da vida, sobretudo nas mais conflituosas. Para o pastor Martin Luther King Junior, “a verdadeira medida de um homem não se vê na forma como ele se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como se mantém em tempos de controvérsias e desafios”. Nesse sentido, a conversão mediante o arrependimento é algo único. Ninguém se converte todos os dias. Paulo ensina que o homem, depois de convertido, renova sua mente a cada dia a partir do maior conhecimento da graça de Cristo. Um crescimento que vai da fase infantil até fase adulta quando, finalmente, esse novo homem alcança a estatura do Varão Perfeito. E para que não haja dúvidas em seus leitores, o apóstolo enumera de modo muito prático como se dão as mudanças de comportamento: Mentia, não minta mais; furtava, não furte mais; irou-se, não peque. Comportamentos necessários a não entristecer o Espírito Santo que habita em todo aquele que já aceitou Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador. Cuidadosamente ele conclui sua lista: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra que cause destruição, mas somente a que seja útil para a edificação”.
Uma mente íntegra resulta em palavras igualmente íntegras (puras, sem malícia). Assim como em Lucas e Efésios, Tiago alerta sobre a necessidade do controle sobre a língua (as palavras). Para ele, a língua “é fogo; é um mundo de iniquidade, pode contaminar a pessoa por inteiro, e põe completamente em chamas o curso da nossa existência”. Destaca ainda o autor que todos os animais e feras se submetem a vontade do homem, mas “a língua, contudo, nenhuma pessoa consegue dominar. É um mal incontrolável, cheia de veneno mortal”. E, por que não consegue dominar? Porque o coração está cheio de ... Tiago argumenta com aqueles que imaginam ser possíveis as contradições intencionais acerca das palavras boas e más (sem integridade): “Da mesma boca procedem bênção e maldição. Meus queridos irmãos, isso não está certo!”
Todavia, silenciar não é necessariamente “controlar” a língua. Para a psicóloga e jornalista Maria Rita Kehl, “quando um processo que nem ao menos é justo, é conduzido por interesses inconfessáveis, mas que todo mundo mais ou menos já sabe, então se cria uma espécie de capa de cinismo que encobre os processos sociais”. Ou seja, faz-se um “Pacto do Cinismo” onde todos, sabendo que está errado, mantém o silêncio diante da injustiça. Neste mesmo sentido o pastor Luther King classifica esse cinismo de “o silêncio dos bons”. Para ele “quem aceita o mal sem protestar, coopera com ele.” Nesse silêncio, a falta de integridade revela-se tão nociva quanto falta de integridade no falar. Por isso, Tiago assevera: “Refleti sobre isto, pois: Quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado.”
Portanto, integridade, enquanto um valor cristão, passa pelos conceitos éticos, morais, sociais e psicológicos das chamadas ciências humanas, no entanto, supera estes conceitos em muito. Porque, em Cristo, o homem é transformado totalmente e, à medida que vai crescendo na graça e no conhecimento de Deus, aperfeiçoa (renova) o que já foi mudado no mais profundo do seu ser. Uma mente íntegra, pura, proba, reta, digna, inteira e integrada à mente de Cristo implica em ações coerentes com a mudança ocorrida na alma. De igual modo, o falar e o calar refletem uma mente íntegra. É verdade que a religiosidade pode moldar comportamentos e palavras sem que haja uma mudança interior verdadeira. Mas, isso, só compete a Deus saber. Por outro lado, se o comportamento e as palavras não são as de Cristo é muito difícil afirmar uma integridade cristã ocorrida no interior do homem. Se a filosofia afirma que sem valores o homem perde sua própria identidade, o cristianismo assegura que sem valores cristãos este perde a identidade de Cristo. Talvez o apóstolo Paulo tenha sido quem melhor definiu o conceito integridade sob a ótica de Jesus. “Fui crucificado juntamente com Cristo. E, desse modo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”.
Que a nossa natureza morra e germine a natureza de Cristo em nós. No pensar, no agir e no falar.

OBS: Este texto foi escrito especialmente para a Igreja Batista do Méier(revista Pensar 14, pg 20). Para conhecer mais sobre os valores da igreja clique aqui.
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