25 de junho de 2014

Apenas uma luz

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“A história conta sobre uma expedição da Segunda Guerra Mundial com seis aviões que decolaram de um navio cargueiro. Eles lançaram seus explosivos e, sob a mortalha da noite, iniciaram seu caminho de volta.

Conectado pelo rádio ao navio, eles solicitaram que luzes fortes iluminassem as perigosas ondas do mar, de modo que pudessem aproximar-se do deck flutuante. A resposta foi que era preciso manter o blecaute absoluto por causa dos aviões inimigos que vigiavam os navios aliados.

Os pilotos enviaram de volta uma solicitação de socorro porque, sem as luzes, eles seriam incapazes de encontrar o navio no oceano tingido de negro. O operador rejeitou seus apelos.

– Pelo menos uma luz – o piloto-chefe implorou. – Apenas uma luz na proa, e nós teremos uma chance!
– Estamos apenas seguindo ordens – o operador retornou. – Sinto muito. Sinto muito mesmo – e as linhas de comunicação da torre se calaram.

Todos os seis aviões se perderam”.1

Apenas uma luz e teremos uma chance ...

“Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.” (Jo 9,5). O Senhor Jesus tinha muito claro o sentido de urgência. Ele sabia que a noite viria quando ninguém mais poderia trabalhar (v. 4).

Ao longo da vida muitas são as oportunidades de sermos luz para aqueles que precisam de uma palavra, um gesto, um abraço, um silêncio. Uma luz, ao menos uma, para que as pessoas tenham uma chance: de recomporem o casamento; de encontrarem uma saída melhor que o suicídio; de retornarem do caminho das drogas etc. Uma luz, ao menos uma.

“As pessoas sofridas não precisam de um novo clichê religioso ... de um novo jargão eclesiástico. Precisam apenas de alguém que fale em nome de Deus.”2 Alguém, ao menos um, que tenha intimidade com o Senhor. E, para isso, não é preciso ser um teólogo, um líder religioso, ou alguém “especial”. A única coisa necessária é viver aos pés de Cristo de tal forma que o falar, o pensar e o agir sejam iguais aos Dele.

“Então eles, vendo a ousadia de Pedro e João, e informados de que eram homens sem letras e indoutos, maravilharam-se e reconheceram que eles haviam estado com Jesus.” (At 4,13)

Se essas pessoas encontrarem um cristão, ao menos um, elas terão uma chance, ao menos uma de se salvarem.

Apenas uma pessoa e teremos uma chance ...

Querido Pai, que eu seja essa pessoa. Que eu tenha o mesmo sentido de urgência de Jesus, que eu nunca perca uma oportunidade de ser luz, e, principalmente, que eu tenha sempre intimidade contigo para poder falar em teu nome.

CORDEIRO, Wayne. Mentores segundo o coração de Deus (The Divine Mentor). Taubaté: ed. Vida, 2008. p. 201-202.
ibidem.

21 de junho de 2014

Emoções são más conselheiras

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Direto da sala da EBD. A pergunta desconcertante era: “Hananias cria mesmo na profecia que ele fez?”

Em primeiro lugar, os títulos da Bíblia (de todas) foram criados depois dela estar pronta (depois do Cânon). Portanto, chamá-lo de falso profeta é título e não texto bíblico.

Em segundo lugar, a pergunta era temporal, isto é, não anacrônica. A leitura e interpretação da bíblia costuma ser quase que 100% vezes anacrônica. Ou seja, o leitor, já conhecedor dos resultados, analisa os erros dos envolvidos quando eles não tinham a menor certeza do que iria acontecer.

Ora, Hananias repetiu a profecia de Jeremias, mas ... sutilmente divergiu dele quanto aos anos de cativeiro. Enquanto Jeremias havia profetizado setenta anos de cativeiro na Babilônia, Hananias falou em dois anos.

Jeremias: “Acontecerá, porém, que, quando se cumprirem os setenta anos, visitarei o rei de babilônia, e esta nação, diz o SENHOR, castigando a sua iniqüidade, e a da terra dos caldeus; farei deles ruínas perpétuas.” (Jr 25,12)

Hananias: “Depois de passados dois anos completos, eu tornarei a trazer a este lugar todos os utensílios da casa do SENHOR, que deste lugar tomou Nabucodonosor, rei de babilônia, levando-os a babilônia.” (Jr 28,3).

Antes de julgarmos o segundo profeta como falso, termo que, repito, não está na Bíblia, é preciso atenção à resposta do próprio Jeremias. “Disse, pois, Jeremias, o profeta: Amém!” (Jr 28,6). Amém quer dizer, assim seja, portanto Jeremias está concordando com a profecia de Hananias e não o desmentido.

O contexto de Judá sob quem a profecia se refere, era péssimo. O Reino do Norte já havia sido destruído e o Reino do Sul (Judá) estava sob o controle do rei da Babilônia, Nabucodonosor (cap. 25-27).

Jeremias não é conhecido como o “profeta chorão” por acaso. Ele tinha grande tristeza em seu coração por causa do grande sofrimento de seu povo. Ver duas gerações no exílio, 70 anos, era muito triste e certamente ninguém desejava isso; nem o rei, nem o povo, nem os profetas Jeremias e Hananaias. Por outro lado, muitas vezes o Senhor “mudou de ideia” diante do arrependimento de seu povo e até de outros povos, como os Ninivitas, por exemplo (livro de Jonas). Além disso, recentemente o Senhor havia livrado Judá da destruição certa de uma forma milagrosa (2 Rs 19) e todos sabiam disso. Mas havia uma diferença, Jeremias era prudente:

“Os profetas que houve antes de mim e antes de ti, desde a antiguidade, profetizaram contra muitas terras, e contra grandes reinos, acerca de guerra, e de mal, e de peste. O profeta que profetizar de paz, quando se cumprir a palavra desse profeta, será conhecido como aquele a quem o Senhor na verdade enviou.” (Jr 28,8-9).
Ora, todos os profetas antes dele profetizaram de males e pestes, agora Hananias profetizava de prosperidade, então somente se a profecia se cumprisse era vinda do Senhor.

Infelizmente, aquela notícia boa, a qual todos queriam ouvir e trazendo alegria aos corações era apenas movida pelos sentimentos e percepções do profeta Hananias. Suas emoções o levaram a mentir em nome de Deus e trazer grande sofrimento ao povo. Ao quebrar jugo de madeira, que o Senhor mesmo havia mandado, acabou por piorar a situação de Judá.

“E agora eu entreguei todas estas terras na mão de Nabucodonosor, rei de babilônia, meu servo; e ainda até os animais do campo lhe dei, para que o sirvam. E todas as nações servirão a ele, e a seu filho, e ao filho de seu filho ... E acontecerá que, se alguma nação e reino não servirem .. e não puserem o seu pescoço debaixo do jugo do rei de babilônia, a essa nação castigarei com espada, e com fome, e com peste, diz o SENHOR, até que a consuma pela sua mão” (Jr 27,6-8).

E foi isso que fez Hananias, rejeitou o jugo: “Então Hananias, o profeta, tomou o jugo do pescoço do profeta Jeremias, e o quebrou.” (Jr 28,10).

E disse ainda, “Assim diz o SENHOR: Assim, passados dois anos completos, quebrarei o jugo de Nabucodonosor, rei de babilônia, de sobre o pescoço de todas as nações.” (Jr 28,11).

Diante destas palavras e sem a certeza de qual seria o veredito do Senhor Jeremias decidiu ir embora. Jeremias não contendeu com Hananias, antes foi prudente e, ao ser confrontado, fez silêncio. Mas a dúvida não ficaria em seu coração, o Senhor não mudaria de ideia, não desta vez. Agora o jugo seria de ferro, a morte e a peste viriam por causa da desobediência do povo que decidiu dar ouvidos a Hananais, ou melhor, às suas próprias emoções.

Ainda que tenha dito amém preferiu ouvir o Senhor a ouvir o seu coração. Por mais dura ainda que fosse a mensagem de Deus, Jeremias ficou com ela. (Jr 28,13-14).

Hananias fez com que o “...povo confiasse em mentiras.” (Jr 28,15). Mentira, essa é a palavra descrita na Bíblia e não “falso”.

Numa sociedade tão embrutecida como a nossa, é claro que emoções (boas) são mais que bem vindas. Mas quando se trata da Palavra de Deus, as emoções não são boas conselheiras. No caso de Hananias custou-lhe a vida. “E morreu Hananias, o profeta, no mesmo ano, no sétimo mês.” (Jr 28,17).

Quanto à pergunta “Hananias cria mesmo na profecia que ele fez?” a resposta está diluída no corpo do texto. Examine a Bíblia e o texto com cuidado e encontre você mesmo a resposta.

Nossa gratidão ao professor Walmir da igreja do Méier por suas considerações.

2 de junho de 2014

Discipulado em família, o papel dos avós

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Na vida em família é natural que os pais sonhem com o melhor para seus filhos. Os pais cristãos desejam ardentemente que seus filhos tenham uma fé genuína em Jesus. Em outras palavras, desejam que os filhos possam gozar da mesma felicidade, mesma paz, mesma graça e mesma certeza de vida eterna que eles têm. Mas de quem é a responsabilidade de levar os filhos aos pés de Cristo? Dos pais, naturalmente.

Gravem estas minhas palavras no coração e na mente; amarrem-nas como símbolos nas mãos e prendam-nas na testa. Ensinem-nas a seus filhos, conversando a respeito delas quando estiverem sentados em casa e quando estiverem andando pelo caminho, quando se deitarem e quando se levantarem” (Dt 11,18-19 - NVI).

O problema é o tempo. Nossa sociedade parece viver a maior falta de tempo da história. Falta tempo para estar juntos em família. Falta tempo para compartilhar de Jesus. Falta tempo! Por isso, muitos acabam transferindo à igreja local e ao pastor a responsabilidade de fazer dos filhos discípulos de Cristo. Mas será que as dificuldades e desafios de hoje justificam essa terceirização da fé em Jesus? Qual o papel dos pais neste processo de discipulado? E qual a participação dos avós neste contexto?

Discípulo? O que é isso? Segundo a concordância de James Strong “Discípulo (mathetes): 1) um aluno; um discípulo, um seguidor de Cristo que aprende as doutrinas da Escritura e o estilo de vida de que necessita; 2) alguém catequizado com instrução adequada da Bíblia com acompanhamento necessário através de aplicações (de vida)”.

Recordo-me da sua fé não fingida, que primeiro habitou em sua avó Lóide e em sua mãe Eunice, e estou convencido de que também habita em você.” (2 Tm 1,5)

Timóteo vivia com mãe em Listra, fora das terras de Israel e a muitos quilômetros de Jerusalém. Além disso, teve dificuldades na sua formação por causa de seu pai grego (At 16,1). Ora, uma fé não fingida, ou autêntica, baseia-se nas experiências vividas com o Senhor. Discipular, o ato de fazer discípulos, não tem a ver com conhecimento de grego e hebraico, não tem a ver com ler dezenas de livros sobre o assunto, não tem a ver com métodos ou fórmulas. Elas podem contribuir, mas não são fundamentais. Discipular tem a ver com compartilhar essas experiências (no plural) de modo a levar outros a terem vida plena em Deus.

Eunice superou todas as dificuldades e encontrou um modo de transmitir ao filho aquilo que aprendeu de sua mãe e também o que viveu, ela mesma, com o Senhor. Isto é, Eunice fez de seu filho um discípulo. E que discípulo! Entre os jovens daquela região Timóteo foi o escolhido pelo apóstolo Paulo para caminhar com ele (At 16,3). Foi escolhido porque os irmãos davam bom testemunho do rapaz, tanto em Listra como em Ícono (At 16,2). Mas ao que parece não estava só na sua tarefa.

O que chama a atenção no texto de Paulo é a citação ao nome da avó de Timóteo, Lóide. Ao considerarmos que a fé não fingida “primeiro habitou em sua avó Lóide”, podemos pensar que sua avó teve participação ativa no processo de discipulado do neto. O exemplo de Timóteo mostra que não foram os tratados teológicos, os muitos livros ou os altos conhecimentos intelectivos que o levaram a desenvolver sua fé. Ela nasceu, cresceu e se desenvolveu dentro de casa nos momentos vividos entre mãe e filho, entre avó e neto. A mesma fé que habitava nelas, afirma o apóstolo “...estou convencido de que também habita em você”.

Como cristãos precisamos pensar nas experiências com Deus que temos deixado de compartilhar com nossos filhos e netos. Talvez no afã de “poupá-los” das dificuldades vividas por causa das escolhas que fazemos ao lado de Cristo, acabamos por não compartilhar, com quem tanto amamos, o conhecimento do Deus vivo que agiu e continua agindo na história. Nesses dias apressados que vivemos até achamos algum tempo para estar juntos em família, mas para falar de outras coisas, talvez mais “agradáveis” ao coração. Quando, na verdade, o que aquece de fato o coração é saber/viver um relacionamento íntimo com Deus. Isso é discipulado, vida na vida. Ou como diz o título do livro de Howard Hendricks “Ensinando para transformar vidas” (recomendo fortemente a leitura).

O Novo Testamento está repleto de exemplos de vidas transformando vidas. Jesus transformou a vida de seus discípulos compartilhando com eles as experiências vividas com o Pai, bem como os comissionou a fazerem o mesmo, ensinar a outros “a guardar todas as coisas” (Mt 28,20). Em Jerusalém o comportamento exemplar dos crentes fazia com que caíssem na graça do povo e assim “todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar” (Atos 2,47). Em Antioquia, cuja fama chegou até Jerusalém, os discípulos eram tão parecidos com o Mestre que “foram pela primeira vez chamados cristãos” – ou xingados de cristinhos. (Atos 11,26).

Portanto, é responsabilidade dos pais levar nossos filhos aos pés de Cristo. Incentivá-los a viver as suas próprias experiências com Deus. Conduzi-los ao crescimento na graça do Pai. Incentivá-los a confiar no Senhor desenvolvendo uma fé autêntica. Mostrar-lhes, pelos próprios exemplos, que a verdadeira adoração não depende de nenhum local em particular, seja um monte em Samaria, seja um templo em Jerusalém, seja em Listra, seja na igreja local. Por outro lado, os avós devem cooperar com a família neste propósito, como nos mostra o exemplo de Timóteo.

Talvez a pergunta não seja “de quem é a responsabilidade?”, talvez sejam outras. O que temos experimentado de Deus em nossas vidas? Qual o nosso grau de dependência, confiança e obediência ao Senhor? O que temos a oferecido a nossos filhos/netos para que eles se sintam motivados e encorajados a também depender, confiar e obedecer a Deus? O apóstolo Paulo lapidou o diamante que já existia no futuro pastor da igreja de Éfeso. Quantos “Timóteos” estão por aí carecendo de mães como Eunice e avós como Lóide. Mulheres que a despeito de todas as dificuldades de gênero, geografia ou de relacionamentos pessoais souberam fazer de Timóteo um legítimo discípulo de Jesus.
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