23 de novembro de 2013

O perdão liberta

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O perdão é uma escolha individual, ninguém pode decidir perdoar ou não pelo outro

Na frase “a vida é feita de escolhas” estão embutidas duas ideias: liberdade e ‘destino’. Liberdade pelas escolhas que fazemos e ‘destino’ como consequências destas escolhas. De certo modo pode-se dizer que cada um de nós tem toda liberdade de escolher quais caminhos tomar. E, ao mesmo tempo, cada um destes caminhos nos levam a destinos diferentes.

Um parêntese: isso não é verdade sempre. As escolhas dos pais trarão consequências para os filhos, escolher beber e dirigir pode trazer consequência para os outros e assim por diante. Portanto: 1) Nem sempre o que nos acontece depende exclusivamente de nós; 2) Destino aqui tem o sentido de consequência.

De modo geral, naquilo que nos é restrito, somos afetados por nossas escolhas, mesmo quando elas também afetam a outras pessoas. Neste sentido, podemos dizer nós definimos o modo como iremos viver o nosso destino. Quantas vezes buscamos viver da melhor maneira, mas não nos damos conta que algumas escolhas que fazemos nos levam a viver de outra. Às vezes se quer percebemos que o único responsável  pela não realização dos nossos sonhos somos nós mesmos. Isto é, não os realizamos por causa das escolhas erradas que fazemos.

O perdão é uma dessas escolhas que podemos ou não fazer. Perdoar é uma escolha do tipo pessoal e intransferível. Pode-se teorizar, racionalizar e sublimar ao máximo sobre o assunto, mas sempre será algo pessoal, será sempre uma decisão ‘foro íntimo’. Certamente não se trata algo fácil, até porque quanto maior a ofensa mais difícil é perdoar. Certas situações de a vida, o perdão parece ser algo impossível.

Contudo, é de menor importância saber se a ofensa é grande ou pequena ou, se a situação é fácil  ou difícil. Seja qual for o caso uma coisa é certa, essa decisão (perdoar/não perdoar) trará consequências para a vida da pessoa para o bem ou para o mal. E mais do que isso, o ofendido será sempre o principal receptor da decisão que ele vier a tomar. A história de José é um bom exemplo disso.

“Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos pese aos vossos olhos por me haverdes vendido para cá; ... Porque já houve dois anos de fome no meio da terra, e ainda restam cinco anos em que não haverá lavoura nem sega. Pelo que Deus me enviou adiante de vós, para conservar vossa sucessão na terra, ... Assim não fostes vós que me enviastes para cá, senão Deus, ...” (Gn 45,5-8)

Encontramos na história de José momentos de superação das várias injustiças sofridas. José superou a dor de ter sido vendido como escravo pelos próprios irmãos. Preferido de seu pai, Jacó, era invejado por seus irmãos e por isso eles pretendiam matá-lo e acabaram por vendê-lo. Por pouco Jacó não morreu de tristeza ao saber da morte - mentira contada pelos irmãos - de seu filho preferido. José também não levou em conta a mentira da mulher de Potifar, oficial de Faraó. Por causa da mentira dela, José foi levado à prisão injustamente. Na prisão José fez vários amigos, entre eles o copeiro-mor. Porém, este não cumpriu a promessa feita a seu amigo e José foi esquecido na prisão por mais dois anos.

Essas coisas: injustiça, abandono e desprezo, acabaram por moldar o seu caráter. Ao tornar-se o segundo homem mais poderoso do Egito, abaixo apenas do Faraó, José não se vigou de nenhum deles.

Dizem que uma das maiores dores sofridas por uma pessoa são aquelas ocorridas no seio da família. Ler a história de José é emocionante justamente porque ainda que seus irmãos não merecessem José decidiu lhes perdoar. Ora, ele se tornara poderoso e, de certo modo, estava sendo recompensado por manter sua integridade em meio as situações da vida. José não precisava “provar nada pra ninguém”, como se diz. Mas ele foi além, decidiu ser livre, decidiu pelo perdão.

Sentimentos como rancores e mágoas nos aprisionam e por mais que queiramos nos livrar deles, não é tão simples assim. Por outro lado, essa é (sempre será) uma decisão pessoal. Podemos escolher viver como escravos das amarguras, das tristezas e da sede de vingança (ou justiça), ou podemos ser livres para viver uma vida mais leve e mais feliz. Essa foi a decisão de José. Ele possuía muito mais do que poderia sonhar: família, poder, prestígio, e riqueza. Embora não vivesse mais no cárcere, ele poderia ter decido viver escravo de seus ressentimentos. José preferiu a liberdade.

A história de José nos ensina que o perdão é possível e libertador. Liberta o homem, em primeiro lugar, de si mesmo. Se há perdão então não há espaço para dores, mágoas ressentimentos e lembranças ruins. Se há perdão há espaço para conforta o sofrimento de causo a ofensa. “Agora, pois, não vos entristeçais”.

Nesta história a parte mais emocionante é aquela em que José surpreende a todos e sem o menor vergonha chora com seus irmãos. “E lançou-se ao pescoço de Benjamim seu irmão, e chorou; ... E beijou a todos os seus irmãos, e chorou sobre eles; ...” (Gn 45,14-15)


Podemos decidir estudar/não estudar, fumar/não fumar; casar/não casar; etc. Quaisquer que sejam nossas escolhas elas nos trarão consequências. De todos os desejos da vida ser feliz é o mais frequente deles, todavia raramente pensamos na felicidade como consequência de nossas escolhas. Se queremos ser felizes precisamos fazer as escolhas certas. Na história de José, todas as suas conquistas não lhe trouxeram a felicidade: viver em paz com sei e seus irmãos. Ele só a encontrou quando tomou uma decisão difícil e pessoal, perdoar. Nem sua esposa, seus filhos o seus irmãos poderiam tomar essa decisão por ele. Essa atitude dependia José e só de José.

Conclusão: 1) Perdoar é muito difícil, mas não é impossível; 2) Perdoar/não perdoar é uma decisão pessoal; 3) As consequências da decisão a ser tomada afetarão, em primeiro lugar, a própria pessoa.

Que o Senhor nos ajude a fazermos as melhores escolhas porque delas dependem, em grande parte, o modo viveremos.
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