26 de fevereiro de 2013

E você, vai permitir?

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Aquele rapaz, marcado pelas várias decepções, frutos das suas escolhas, ora infantis ora profundamente sinceras, experimentara a desfaçatez, a mentira, a traição e o abandono. Sua perspectiva de vida fora duramente abalada por suas escolhas bem como por sua confiança nas pessoas erradas. Perdera quase que totalmente a fé no ser humano. Desconfiava de tudo e de todos.

Nos últimos anos havia superado muitos desafios mesmo assim os novos problemas, agora exclusivamente seus, não eram menos profundos. A desconfiança também não diminuíra. Perdera a inocência para sempre.
Foi assim que viveu um dos momentos mais difíceis emocionalmente. Quem havia de lhe prestar socorro, ou no mínimo não piorar a situação, era justamente quem o fustigava. Não se tratava de perseguição, mas de interesses escusos que estavam para além dele. Seu líder não o queria mal, ele era apenas um obstáculo a ser removido.

Aquilo caiu como uma bomba sobre sua instável situação emocional. Como poderia ele, o líder, ser tão incoerente entre o discurso e a prática? Era um contrassenso total. Na situação em que vivia tudo foi potencializado a milésima potência. Perseguição, obsessão, sadismo, mentira, cinismo etc., estavam associadas à imagem daquele homem de fala mansa e discurso piedoso.

Segundo a biologia há uma explicação para reação daquele jovem associada a imagem/lembrança do homem. O mecanismo da memória é a reconstrução sináptica do cérebro. Isto é, lembrar traz as mesmas sensações do passado: alegria ou dor.

A presença daquele homem, catalizada por suas experiências, causava imensa angústia ao rapaz. Cada vez que narrava sua história, a simples menção do nome e dos acontecimentos envolvendo aquela pessoa o fazia “perder o controle”. O coração acelerava, a pressão subia, a voz ficava embargada e alterada.

A pergunta mais eficaz que lhe fizera seu amigo acabou por desatar os vários nós de sua mente e garganta.  – E você vai permitir que ele faça isso com você?

A primeira vista tal pergunta não fazia sentido. – O que posso fazer? Retrucou.  – Ele tem credibilidade, tem o poder, tem prestígio. E eu? Não sou nada nem ninguém. Quem vai acreditar em mim ou na minha história?

Com paciência e sabedoria o amigo voltou à mesma pergunta e completou. – Olha pra você, olha seu estado. Você está todo alterado por causa deste sujeito. Será que vale a pena?

Após uma pequena pausa, continuou. – Rapaz, você está assim, desse jeito, e ele nem está aqui. E tornou a perguntar. – Você vai permitir que ele faça isso com você?

A ofensa, a injúria, a injustiça, a traição etc., são malefícios reais. Eles existem de fato. A questão é até onde eles vão. Sua extensão e profundidade são do tamanho que atribuímos a cada uma destes males. Eles são exatamente (só) o que são, nem mais nem menos. Contudo, podemos somatizar, potencializar e viver por longos anos sofrendo solitários com as más lembranças (as sinapses) ou nos livrarmos delas e voltarmos a ser felizes.

É verdade que em alguns casos precisaremos de ajuda para nos livrarmos destes males, como no caso do jovem, mas, na grande maioria, bastaríamos fazer duas perguntas para nos curarmos deles. 1) Qual lembrança me faz tão mal que perco o controle da minhas ações e emoções, ainda que eu não as demonstre? – Talvez alguma venha à sua mente neste instante. 2) E você vai permitir ela, a lembrança, faça isso com você?

Pense nisso, peça ajuda e viva mais feliz!
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